O Hinduísmo teve origem na Índia por volta do ano 1500 a.C., e é praticada por 80% da população, cerca de oitocentos milhões de pessoas no mundo. É considerada a principal religião do subcontinente indiano. Em termos de adeptos, é a terceira religião com o maior número de praticantes no mundo. Os seguidores do Hinduísmo acreditam em vários deuses, e na reencarnação. Para eles, os seres humanos morrem e renascem várias vezes. 

O Hinduísmo é uma religião bastante abrangente e complexa, que se confunde com a própria história da Índia. Alguns estudiosos chegam a dizer que não se trata de uma religião do povo da Índia, uma vez que não tem um sentido missionário, ou seja, não está voltada para a conversão de outros povos. No Hinduísmo, não existe um fundador específico, é fruto do encontro de tradições e crenças diversas, da própria organização social da Índia. Seus adeptos o chamam de religião eterna, “sem começo e sem idade”. 

Os arianos (pastores de pele clara) foram os responsáveis pela imposição de um sistema hierárquico de estratificação social e religiosa que agrupou as pessoas em diferentes castas, de acordo com o seu lugar ou posição na sociedade. Preocupados em manter o próprio poder, os arianos alegavam que essa organização social havia sido determinada pelos deuses e fundamentava-se nos Vedas (livros sagrados).  

Para esses pastores, esse sistema era permanente, imutável e não admitia a ascensão social pelo casamento ou pelo esforço pessoal. Cada pessoa nascia e morria na mesma casta. Resignados, os indianos consideravam sua situação social como algo predeterminando, fruto de suas ações em existências anteriores. Para eles, existiam quatro castas, três superiores e uma inferior, que obedeciam a uma hierarquia rígida e eram separados por regras religiosas de natureza pura e ritual.  

A mais pura era dos brâmanes, ou sacerdotes, seguida pela casta dos dirigentes (reis, soldados e guerreiros), a dos agricultores e comerciantes, e, por fim, pela casta inferior, a dos súditos, ou artesãos (trabalhadores rurais e urbanos). Abaixo delas ficavam os párias da sociedade, ou “intocáveis”, que, como escravos, não tinham direitos e assumiam as piores tarefas. 

Claudio Blanc, estudioso das religiões, no seu livro “As religiões do mundo” (2021), afirma que “Oficialmente o sistema de castas foi abolido em 1950 pela constituição indiana, porém sabemos que não é de uma hora para outra que se acaba com um costume milenar, que, infelizmente, ainda continua a fazer parte do Hinduísmo atualmente”. A complexidade da sociedade hindu determinou uma religião com grande número de deuses, das mais variadas formas, nomes e importância, com cultos muito ricos e uma filosofia de vida bastante centrada na reencarnação.  

O panteão védico, o conjunto das divindades, organizam-se em torno de três deuses, considerados os mais importantes: 1) Brahma – Espírito Universal, o criador, a essência da pureza, inteligência e beatitude; 2) Vishnu (encarna-se em Rama e Krishna) – O preservador, força conservadora das coisas existentes. Divindade benévola, cuja missão é salvar e redimir o mundo; 3) Shiva – O destruidor, que reúne em si aspectos contraditórios, pois, ao mesmo tempo que ajuda Brahma a criar, também destrói. 

O Hinduísmo sustenta que a alma passa por uma série de encarnações até, finalmente, atingir um estado de consciência conhecido como moksha: a salvação espiritual que libertará a alma do samsara – o ciclo de reencarnações. As experiências e ações de cada nova vida levam o espírito mais perto ou mais longe de moksha. As atitudes negativas levam a um carma ruim, o que implica encarnar num nível inferior na vida seguinte. Da mesma maneira, uma vida boa e justa conduz a alma para cada vez mais perto do estado de moksha. A melhor forma para orientar as ações e atitudes é a obediência ao darma, a Lei da Harmonia Universal. 

Por fim, a ritualística hindu envolve três práticas básicas: puja, ou veneração, a cremação dos mortos e a obediência ao sistema de castas. Essa última tradição representa um atraso para a Índia e fomenta histórias, algumas vezes, inacreditáveis. Na década de 1980, por exemplo, vários harijans, membros da casta dos intocáveis, os párias da sociedade hindu, foram mortos num tumulto que começou porque um noivo se recusou a desmontar do cavalo quando passou por um grupo de homens da casta superior.  

Luís Lemos é filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente, Editora Viseu, 2021.  

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