Os Estados Unidos pagam caro a licenciosidade com que sempre trataram a questão das armas de fogo. Não faz duas semanas que um maluco trucidou dez pessoas num supermercado em Nova Iorque, num crime com laivos de racismo já que a área era de habitantes predominantemente negros. Agora mesmo, um jovem de apenas dezoito anos, portando um fuzil de assalto AR-15, massacrou dezenove crianças e duas professoras em uma escola no Texas.

Diante da cruel realidade, é o próprio presidente Joe Biden que, segundo O Globo, faz um desabafo patético: “Os fabricantes de armas passaram duas décadas vendendo agressivamente armas de assalto, o que lhes rendeu um lucro enorme. Temos que nos perguntar: quando vamos enfrentar o lobby das armas? Quando vamos fazer o que sabemos, dentro de nós, que precisa ser feito? Pelo amor de Deus, temos que ter coragem de enfrentar a indústria das armas”.

O que pensaria o gringo se soubesse que no Brasil é o próprio presidente da República que, desvairado, prega a mais absoluta liberdade no comércio de armas, incentivando a compra e venda do material? Tem sido essa a política do governo nesses quase três anos e meio de desmandos. Ou o americano está errado em manifestar seu arrependimento tardio, ou o nosso Bozo está na contramão da história ao fomentar uma corrida armamentista no âmbito doméstico.

Seja como for, é indiscutível a vocação de Bolsonaro e seus adeptos para a violência. Física ou verbal, tanto faz, desde que fique bem claro que os partidários do governo não têm nenhuma vocação para o diálogo, preferindo a pura e simples imposição de seus pontos de vista. Note-se que, na questão das armas, o governo, a par de incrementar uma política de venda descontrolada, incentiva, no âmbito policial, o emprego da força na sua expressão mais brutal.

É certo que os policiais enfrentam, como é de seu dever profissional, elementos pouco dados ao diálogo e, o que é mais grave, armados com o que pode haver de mais sofisticado no mercado. Em tais condições, pode-se dizer que não há nada de espantoso quando, em uma operação policial em locais dominados pelo crime organizado, haja óbitos. Afinal de contas, os riscos são recíprocos. Nem por isso se há de enfatizar, como se ato de heroísmo fora, a conduta policial que resulta em dezenas de mortes, inclusive de pessoas inocentes. Não é esse, porém, o pensar (?) de Bolsonaro. No recente episódio ocorrido em uma favela no Rio de Janeiro, em que mais de vinte pessoas morreram, Bozo foi para as redes sociais endeusar o comportamento dos policiais. Pelos encômios feitos, poder-se-ia pensar que tinha sido travada uma batalha em que estava em jogo a soberania nacional, tendo sido esta preservada pelo arrojo e determinação dos homens da polícia.

A violência, é sabido, não é boa conselheira e só tende a levar à sua própria repetição, quando empregada sem nenhum controle. É emblemático o caso dos policiais rodoviários federais que, numa atitude insana e despropositada, acabaram por assassinar um cidadão no porta-malas de um automóvel.Tratou-se, é verdade e felizmente, de incidente isolado. Nem por isso há de ser minimizado, pois é apavorante a só possibilidade de qualquer um de nós ser tratado como o foi o nosso compatriota assassinado.

[Mas tudo isso é a cara desse governo que se compraz na violência e dela se alimenta diuturnamente. É preciso dar um basta nisso, até como forma de enfrentar as mazelas que os desmandos econômicos estão fazendo vir à tona, tais como inflação e elevação absurda de preços. Parafraseando o presidente americano, pergunto: quando vamos enfrentar a indústria da insensatez?

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