Primeiro foram os sutiãs. Considerados símbolo maior do machismo opressor, passaram a ser descartados lá pela década de 70 do último século, liberando seios que ora enlevavam pela beleza, ora provocavam, quando muito, fugaz reminiscência. Mas parece que o projeto não deu muito certo e os suportes voltaram à ativa com força total, de tal maneira que perderam completamente a qualidade de símbolo da legítima aspiração das mulheres pela igualdade.

Agora temos novidade no pedaço. Não bastasse o sangue que escorre dos jornais, quando espremidos, em decorrência da violência urbana, eis que (vi na internet) um grupo de feministas pretende banir o uso dos absorventes higiênicos, deixando que flua livre, sem peias e sem destino, o sangue que lhes brota das entranhas durante o ciclo menstrual. Lá estavam elas, calças compridas brancas, exibindo o marcante contraste da vermelhidão com que foram manchadas. Acho-me autorizado a concluir que nenhuma senhora da aristocracia ainda aderiu ao movimento, uma vez que não me foi dado vislumbrar nenhuma calça exibindo qualquer tonalidade de azul.

Mas talvez seja apenas questão de tempo e paciência. É da história que as ideias geniais nem sempre se impõem de imediato, necessitando de um período de maturação para que sejam devidamente assimiladas, difundidas e postas em prática. Aí tem importância fundamental o tal de marketing. Nada que a versatilidade das empresas do setor não consiga suplantar, sabido que chegam a vender tascas como se fossem palacetes. É indispensável a criação de um slogan, daqueles chamativos e impactantes, capazes de prender a atenção da mais desligada das criaturas. Imagino algo assim, mas é sugestão de um simples amador: “Xibiu sem absorvente, mulher mais atraente”. Já pensou? Sua cara-metade lavada em sangue e você cada vez mais apaixonado por ela. É revolucionário, é a liberdade na sua mais elevada expressão, a satisfazer as ânsias condoreiras de Castro Alves.

Tratando do assunto, não posso reprimir um sentimento de orgulho diante de um exemplo familiar, precoce e engraçado, desse sentimento libertário tão cedo manifestado. Catarina, minha netinha de dois anos (uma princesinha fofa e gorducha), tem, qual as feministas que lutam pela integral liberação do catamênio, convicção absoluta de que a natureza não deve ser camuflada sob nenhum pretexto ou argumento. Tanto é assim que, com fralda ou sem ela, não se acanha de deixar que o xixi e o cocô venham à luz se e quando o organismo assim o determinar. E trata ambos os produtos com a mais absoluta liberalidade. Dia houve em que ela me entregou um pedaço de sua secreção intestinal e que eu, deliciado pela vozinha que chamava “vovô”, cheguei a segurar na firme convicção de que se tratava de massinha para modelar.

Mas isso são tolices de avô. Nada a ver (será?) com o tema central deste texto, voltado, como é dever de seu autor, para as legítimas aspirações do sexo feminino, secularmente explorado e menosprezado, por força das injunções do patriarcado. Se os seios, por espontânea deliberação das militantes, voltaram a ser comprimidos pelos sutiãs, isso não invalida o movimento recentemente eclodido, agora com o centro de atenção situado mais abaixo na anatomia feminina.

Se dado me fosse meter o bedelho em tão relevante assunto, ousaria sugerir às comandantes da rebelião que pensassem em avançar um pouco mais e lutar tenazmente pela eliminação completa e irreversível das calcinhas íntimas. É simples questão de lógica, que encontraria apoio em filósofos de renome. Sendo (suponho) uma das utilidades daquele adereço íntimo, servir de suporte para o absorvente em si mesmo, eliminado este, o outro perderia automaticamente sua serventia, podendo ser descartado sem maiores problemas. E cumprida estaria uma das lições do direito civil: o acessório segue a sorte do principal.

Não sei se dei algum contributo válido para o movimento. Se não, peço humildes desculpas, colocando a falha na indiscutível e reconhecida ignorância do escriba. Acreditem, porém, que a intenção foi a melhor possível, empolgado que sempre fui por tudo aquilo que está direta ou indiretamente ligado à evolução da espécie humana, como sói ser o caso desse movimento do xibiu livre.

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