Arte/Metrópoles

São Paulo Preso em agosto deste ano, sob a suspeita de envolvimento em um esquema que visa a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas eleições municipais, o advogado Ahmed Hassan Saleh, conhecido como Mude, teria recebido ao menos R$ 400 mil da facção em dinheiro miúdo, fedendo a maconha.

A prisão temporária dele, ocorrida em 6/8, foi convertida para domiciliar no dia seguinte, por determinação da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores, do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Um relatório de inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do governo federal, mostra que, entre 2019 e este ano, Ahmed recebeu R$ 27 milhões à crédito. As movimentações chamaram a atenção da autoridade financeira e ajudaram a Polícia Civil de São Paulo a identificar o suposto elo dele com a facção.

Uma investigação da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, mostra que o advogado recebeu, em dinheiro vivo, ao menos seis depósitos, totalizando mais de R$ 400 mil, feitos com notas de R$ 20, “com forte cheiro de maconha”.

O baixo valor das cédulas e os grandes valores da meia dúzia de repasses, que oscilam entre R$ 27 mil e R$ 138 mil, indicam como origem as bocas de fumo do tráfico, de acordo com a polícia.

“Ahmed Hassan Saleh teria acolhido em sua conta vultosos valores cujas características, segundo o banco comunicante, indicam ser provenientes do tráfico de drogas […]. No presente caso o ‘cheiro’ indica muita coisa”, diz trecho de relatório obtido pelo Metrópoles.

Fim da linha

O advogado consta como investigado em trabalhos que resultaram em operações deflagradas pela Promotoria e pela polícia paulistas.

Ele é acionista da empresa de ônibus UpBus, um dos alvos da Fim da Linha, ação desencadeada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) que investiga a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.

Já em outro levantamento, além de Ahmed, mais 12 suspeitos foram presos em 6/8, em 15 cidades paulistas, durante a Operação Decurio, da Polícia Civil.

As investigações identificaram um projeto de infiltração de integrantes do PCC nas eleições municipais, lançando candidatos. Os nomes dos postulantes foram preservados, por ora, para não prejudicar o processo eleitoral. Em eventuais vitórias nas urnas, eles não poderão assumir os cargos.

Os planos de chegar ao poder foram descobertos após a apreensão de dois celulares que estavam com Fabiana Lopes Manzini, presa por tráfico de drogas em setembro do ano passado.

Ela é casada com Anderson Manzini, o Gordo, integrante do alto escalão do PCC, que há 22 anos administra seus negócios criminosos atrás das grades. Para isso, era auxiliado pela esposa. Ela garantia que cartas escritas pelo marido chegassem aos destinatários.

Os planos para se infiltrar na política constavam de alguns dos manuscritos, fotografados por Fabiana e compartilhados em conversas pelo WhatsApp.

Indicações de políticos

As investigações mostram que Fabiana mantinha contato com João Gabriel Yamawaki, primo de Gordo, para que ele indicasse os candidatos que seriam financiados pelo PCC. João está preso e é dono de um “banco digital do crime”, por meio do qual a facção movimentou, junto com 19 empresas, R$ 8 bilhões.

Fabiana assumiu os negócios do marido desde que ele foi preso e é apontada pela polícia também como integrante da maior facção criminosa do Brasil. Nas trocas de mensagens, João Gabriel fala para Fabiana ver com o Gordo “sobre as campanhas de vereadores”.

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Ele menciona nomes de parceiros da facção, disponíveis para disputar uma vaga no Legislativo, nas cidades de Ubatuba, no litoral, além de Mogi das Cruzes e Santo André, ambas na Região Metropolitana de São Paulo.

“Fala ainda que tem interesse em lançar candidatos em cidades da Baixada Santista, Campinas e Ribeirão Preto”, diz trecho de relatório policial, obtido pelo Metrópoles. Os três nomes indicados por João Gabriel já foram identificados pelas autoridades.

Além de ser parente de Gordo, o primo banqueiro foi batizado na facção e seria indicado, como mostram as investigações, para compor a Sintonia Geral dos Caixas, setor responsável pela movimentação financeira e operações de câmbio do PCC.

As defesas dos suspeitos mencionados nesta reportagem não foram localizadas. O espaço segue aberto para manifestações.

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