
A “Farra do INSS” acaba de ganhar novos capítulos. A Advocacia-Geral da União (AGU) ampliou o alcance da ofensiva judicial contra o esquema bilionário de fraudes envolvendo entidades associativas, servidores públicos e empresários. Na noite desta sexta-feira (09), a AGU incluiu seis empresas e oito novos investigados, entre eles nomes centrais como o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes — o “Careca do INSS” — e Eric Fidelis, filho do ex-diretor de Benefícios da autarquia André Fidelis. As informações são do Metrópoles.
A ação cautelar, ajuizada na última quinta-feira (8), solicita o bloqueio de bens, a suspensão das atividades financeiras e a quebra dos sigilos bancários dos 14 novos alvos. Até então, o processo abrangia apenas 12 entidades associativas envolvidas na manipulação dos descontos sobre aposentadorias. O escândalo já soma bilhões de reais desviados dos beneficiários mais vulneráveis da Previdência Social.
Teia empresarial e repasses milionários
No centro do novo pedido está a Acca Consultoria Empresarial, empresa ligada diretamente ao “Careca do INSS” e a seu filho Romeu Carvalho Antunes. A empresa, segundo investigações da Polícia Federal, teria recebido ao menos R$ 4 milhões de entidades sob suspeita de operar o esquema de cobranças ilegais. A residência de Romeu foi alvo de busca e apreensão na primeira fase da Operação Sem Desconto, em abril.
Outro foco da ofensiva é o advogado Eric Fidelis, que, entre pessoa física e seu escritório de advocacia, recebeu mais de R$ 5,1 milhões de associações envolvidas na fraude. Uma das transferências consideradas atípicas pela PF ocorreu entre o escritório de Eric e a advogada Cecília Rodrigues Mota, ex-presidente de entidade do setor. Só entre novembro de 2023 e abril de 2024, Cecília repassou mais de R$ 520 mil ao filho do ex-diretor do INSS.
Corrupção familiar e lavagem de dinheiro
Cecília Mota e seu escritório também foram incluídos na ação da AGU. Ela é apontada como peça-chave no repasse de recursos a servidores e seus familiares. De acordo com a Polícia Federal, suas empresas movimentaram R$ 14 milhões e mantiveram uma rede de pagamentos que beneficiou diretamente o ex-procurador do INSS, Virgílio Oliveira Filho. A irmã do ex-procurador, Maria Paula Xavier da Fonseca Oliveira, teria recebido R$ 630,6 mil em apenas cinco meses — o mesmo período em que ela também repassava valores a Eric Fidelis.
Empresas de fachada e rastro de propina
A lista da AGU também inclui a empresa Arpar Administração, Participação e Empreendimento S.A e seu sócio Rodrigo Moraes. Somente a Arpar teria repassado R$ 49,1 milhões a empresas ligadas ao “Careca do INSS”. A principal destinatária foi a WM System Informática LTDA, que recebeu R$ 14,5 milhões — e agora também figura na ação, junto com seu sócio, Anderson Claudino de Oliveira.
O rastro da imprensa e os efeitos políticos
O escândalo ganhou notoriedade após uma série de 38 reportagens do site Metrópoles, iniciada em dezembro de 2023, que revelou a escalada abusiva nos descontos das aposentadorias e milhares de ações judiciais contra as entidades por fraudes na filiação de segurados. As reportagens basearam a abertura de investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU).
A repercussão derrubou peças centrais do governo. A Operação Sem Desconto, deflagrada em 23 de abril, levou à exoneração do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e à renúncia do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
Impunidade histórica abalada
A atuação da AGU marca um novo momento no enfrentamento do esquema, que já é comparado ao caso Jorgina de Freitas, na década de 1990. A magnitude, no entanto, é ainda maior — com valores que superam R$ 8 bilhões e mais de 9 milhões de beneficiários afetados.
A Justiça decidirá nos próximos dias se acata o pedido da AGU. Enquanto isso, o país acompanha perplexo o desdobramento de um dos maiores esquemas de corrupção da história da Previdência Social.