
Embora o corpo humano abrigue trilhões de bactérias essenciais para seu bom funcionamento, o desequilíbrio nesse ecossistema pode abrir espaço para micro-organismos potencialmente letais. Um estudo publicado na revista Nature Microbiology revelou como a alimentação — especialmente o consumo de fibras — pode ser determinante para manter o intestino protegido contra bactérias como Klebsiella pneumoniae e E. coli, pertencentes ao grupo das Enterobacteriaceae.
Essas bactérias, embora presentes naturalmente no organismo, podem se multiplicar de forma descontrolada em situações de inflamação ou após o consumo de alimentos contaminados, e, em casos extremos, provocar infecções graves e até fatais. “Quando o equilíbrio do microbioma é rompido, essas bactérias oportunistas podem desencadear doenças sérias”, alerta a nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia.
Segundo a médica, o novo estudo analisou amostras fecais de mais de 12 mil pessoas em 45 países, utilizando inteligência artificial para identificar padrões do microbioma intestinal. Os resultados apontam que a composição bacteriana do intestino pode prever a suscetibilidade do indivíduo à colonização por Enterobacteriaceae.
Bactérias boas em ação
A pesquisa identificou 135 espécies de microrganismos intestinais que geralmente estão ausentes quando as Enterobacteriaceae se proliferam. Dentre elas, o gênero Faecalibacterium se destacou por produzir ácidos graxos de cadeia curta — compostos com efeito protetor, derivados da fermentação das fibras alimentares.
“Essas substâncias têm papel fundamental na manutenção da saúde intestinal e na inibição de bactérias patogênicas. Por isso, uma alimentação rica em fibras é tão crucial”, explica Garcez. Verduras, legumes, frutas, grãos integrais e sementes são os principais aliados da microbiota saudável.
O papel da dieta na prevenção de infecções
Além de fortalecer a flora intestinal, as fibras alimentares ajudam a remodelar o ambiente do intestino, reduzindo as chances de proliferação de microrganismos nocivos. “Alimentos como vegetais, leguminosas e cereais integrais fornecem os nutrientes necessários para que as boas bactérias prosperem e mantenham as ruins sob controle”, destaca a nutróloga.
O estudo também chama atenção para a resistência crescente de certas bactérias aos antibióticos, como é o caso da Klebsiella pneumoniae, associada a quadros de pneumonia, meningite e outras infecções graves. “Com o avanço da resistência antimicrobiana, é fundamental investir na prevenção. Evitar que essas bactérias tenham espaço para se desenvolver é hoje uma das estratégias mais eficazes”, afirma Garcez.
Probióticos e limitações
A pesquisa ainda revela que 172 espécies de micróbios intestinais conseguem coexistir com Enterobacteriaceae, muitas delas utilizando os mesmos nutrientes. Isso levanta dúvidas sobre a eficácia do uso isolado de probióticos como forma de combate direto às bactérias patogênicas.
“Tomar probióticos sem mudar o ambiente intestinal pode não ser suficiente. A abordagem mais eficaz é promover uma mudança no ecossistema intestinal por meio da alimentação balanceada e, quando necessário, suplementação orientada por profissionais”, conclui a médica.
Com informações do portal NSC Total