Na semana seguinte, comecei a chegar mais cedo à escola. Sentava na primeira fileira, caderno aberto, caneta em punho, como um verdadeiro discípulo do Amor e da Ciência.

A professora nem precisava perguntar, eu já estava pronto para responder qualquer coisa. Ainda que nem sempre soubesse a resposta certa, respondia com convicção. Porque, para mim, amar também era um ato de coragem.

Na terceira semana de aula, ela chegou usando um vestido azul. Azul como o céu das manhãs de junho.

Nesse dia, ela explicou sobre os mamíferos. Falou de gestação, cuidado com os filhotes, hormônios e sentimentos.

Eu, ali, feito um filhote atento, tentando entender a biologia dos meus próprios hormônios.

No final da aula, tomei uma decisão ousada. Esperei até que a sala esvaziasse e me aproximei da mesa dela com o caderno na mão.

No meio da última folha, entre fórmulas e anotações mal feitas, estava o meu bilhete: “Te amo, professora!”.

Ela leu em silêncio. Depois, olhou para mim com um sorriso delicado, desses que não iria ferir meus sentimentos e nem alimentar esperanças. Colocou a mão sobre meu ombro e disse-me:

— “Você tem um coração bonito. Cuide bem dele”.

Eu não sabia o que responder. Apenas balancei a cabeça e saí da sala devagar, como quem acabara de sair de um sonho.

Naquele dia, algo mudou. Não deixei de gostar dela, mas entendi que o amor, às vezes, é só isso: admiração silenciosa, aprendizado à distância, e uma memória que o tempo transforma em dor ou em poesia.

A professora continuou sendo a musa dos meus cadernos e o motivo do meu esforço nas provas. Tudo o que eu fazia tinha ou deixava de fazer, tinha a sua presença, a sua intensão, o seu cheiro, a sua lembrança…

Mas, com o tempo, meu coração aprendeu a bater por outras razões: o futebol, as aulas de Filosofia, o recreio com os amigos, a menina da sétima série que sorria para mim no corredor…
Em casa, depois da aula, abri o caderno e escrevi as seguintes palavras, como que me despedindo daqueles sentimentos:

“Tenho certeza que foi amor, daquele jeito doce, o mais verdadeiro. Mas hoje eu guardo sem mais dor, feito um pássaro no céu inteiro. Não vou sofrer, não vou chorar, meu coração quer sol e estrada. O amor vai sempre me encontrar em cada amigo, em cada risada”.

Eu estava crescendo. Já não era mais só aquele menino que se encantava fácil, que escrevia poesias escondido no caderno.

Começava a entender que “amar” também é deixar ir, e que crescer é aprender a transformar despedidas em pontes para novos caminhos.

O amor platônico pela professora de Ciências foi o meu primeiro amor. Não virou romance, mas virou rumo. Porque foi com ela que aprendi que amar também é saber esperar, respeitar e crescer.

E foi ali, naquela escola, com doze anos, que eu descobri que o amor de verdade nem sempre precisa ser correspondido para ser real. Às vezes, ele só precisa acontecer para ensinar a gente a ser maior do que era antes.

E eu estava mudando…

Luís Lemos é professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar” (2011), “O homem religioso” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas” (2019), “Filhos da quarentena” (2021), “Amores que transformam” (2024) e “Noite Santa” (2025).

Instagram: @luislemosescrito

Artigo anteriorApós anunciar gravidez, Mariana Rios publica foto rara com o namorado
Próximo artigoFamília de brasileira morta por barbeiro em Portugal faz vaquinha