O Brasil registrou uma queda de 68% nos casos de dengue nos dois primeiros meses de 2025 em comparação ao mesmo período do ano passado, quando o país viveu uma explosão recorde de contaminações. Apesar da redução, especialistas e o Ministério da Saúde alertam para a tendência de alta no número de infecções, especialmente com o retorno do sorotipo 3 da doença, que pode desencadear uma nova onda de contaminações, informa o jornal O Globo.

De acordo com o último boletim epidemiológico da pasta, divulgado na semana passada, o país registrou 401.408 casos de dengue em 2025. Os estados com maior concentração de infectados são Acre, São Paulo e Mato Grosso. Embora os números ainda estejam dentro do limite esperado para o período, os órgãos de saúde monitoram uma possível elevação dos casos.

Especialistas alertam para risco de epidemia – Claudio Maeirovitch, médico sanitarista da Fiocruz de Brasília, destaca que, apesar da queda expressiva em relação a 2024, o Brasil ainda vive um ano de grande epidemia.

“Estamos com um valor abaixo do que em 2024 mas ainda assim é um ano de grande epidemia. Não se aproxima do ano passado, que foi a maior epidemia do Brasil, mas ainda assim temos muita preocupação. Estamos com uma taxa alta já no começo do ano, quando isso era esperado mais para frente. A situação não é tranquila e o vírus dengue 3 está presente em proporção alta dos tipados. Isso é um conjunto de informações muito preocupantes”, afirmou.

O sorotipo 3 do vírus da dengue não circulava no Brasil há mais de dez anos, o que significa que grande parte da população não tem imunidade contra ele. Além disso, infecções sucessivas tendem a ser mais graves, tornando o atual cenário ainda mais preocupante. Até o momento, o sorotipo 3 foi identificado em 11 estados, com maior concentração em São Paulo, que responde por 73,4% dos casos registrados no país.

Crise em São José do Rio Preto e ações emergenciais – Entre os municípios paulistas, São José do Rio Preto enfrenta um dos piores cenários, com mais de 35 mil casos confirmados. Diante do colapso no sistema de saúde local, a cidade solicitou apoio do Ministério da Saúde para suprir a demanda crescente por atendimentos. Profissionais da Força Nacional do SUS realizaram mais de 2 mil atendimentos na região, além da instalação de estações de hidratação e de uma sala de estabilização para casos graves. O governo federal destinou R$ 1,3 milhão para reforçar as ações de controle da epidemia na cidade.

O secretário adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Rivaldo da Cunha, destacou o risco de expansão do sorotipo 3 para outras regiões do país.

“O Ministério da Saúde está preocupado com o sorotipo 3. Intensificamos a vigilância para a detecção e monitoramento do vírus. Há possibilidades reais que ele se espalhe pelo país com o deslocamento das pessoas. Temos que contar com isso e essa é a razão para intensificar as ações de proteção. Todo mundo precisa dar a sua contribuição, olhar onde tem acúmulo de água. É o nosso apelo”, disse Cunha. 

Avanço no combate e busca por novas vacinas – O combate ao mosquito Aedes aegypti continua sendo um dos principais desafios do país. O Ministério da Saúde distribuiu 6,5 milhões de testes rápidos, 215 mil quilos de larvicida e adquiriu mais 9,5 milhões de doses de vacina contra a dengue. Além disso, destinou R$ 1,5 bilhão para ações de prevenção ao longo de 2025.

Diante da necessidade de ampliar a imunização, o governo anunciou um acordo para incorporar a primeira vacina brasileira contra a dengue, desenvolvida pelo Instituto Butantan, ao Sistema Único de Saúde (SUS). A previsão é que o imunizante esteja disponível a partir de 2026, com produção inicial de 60 milhões de doses anuais. No entanto, a vacina ainda aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no SUS (Conitec).

Enquanto isso, a vacina da Takeda, aplicada desde 2024, ainda tem adesão abaixo do esperado. Apenas 37% do público-alvo definido pelo governo recebeu ao menos uma dose do imunizante, correspondendo a 3,1 milhões de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos. O Ministério da Saúde busca estratégias para ampliar essa cobertura e mitigar os impactos da doença no país.

Perspectivas – Apesar da queda expressiva nos casos de dengue em relação a 2024, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos no combate à doença. O retorno do sorotipo 3, aliado à dificuldade de erradicação do Aedes aegypti, impõe a necessidade de intensificação das medidas preventivas. O sucesso das novas vacinas e das políticas de combate ao mosquito será decisivo para impedir que o país enfrente uma nova explosão de casos nos próximos anos.

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