Reprodução/X

A polícia turca prendeu quatro funcionários da revista satírica LeMan nesta terça-feira (1º/7), sob a acusação de “incitar o ódio e desrespeitar valores religiosos”. A medida foi motivada pela publicação de uma charge considerada ofensiva ao profeta Maomé por grupos conservadores e autoridades islâmicas.

A imagem, em preto e branco, mostra dois homens alados flutuando no céu trocando saudações muçulmanas. Um deles se apresenta como “Muhammad”, e o outro, como “Moisés”, com um cenário de guerra ao fundo — uma referência ao conflito em Gaza. A revista afirma que se trata de dois personagens simbólicos, e não uma representação do profeta islâmico.

Entre os detidos estão:

  • Dogan Pehlevan, cartunista responsável pela charge;

  • Zafer Aknar, editor-chefe da LeMan;

  • Cebrail Okcu, designer gráfico;

  • Ali Yavuz, gerente administrativo.

Mandados de prisão também foram expedidos contra dois editores atualmente fora do país.

Protestos e ataques à redação

A publicação provocou reações intensas. Na noite de segunda-feira (30/6), manifestantes apedrejaram a sede da revista no centro de Istambul e atacaram um bar frequentado por seus funcionários. Houve confrontos com a polícia, que usou balas de borracha para dispersar a multidão.

Na terça-feira, após as orações do meio-dia, manifestantes se reuniram novamente em frente a uma mesquita no centro da cidade. Alguns exibiam faixas com dizeres como “Insultar o Mensageiro de Deus não é liberdade de expressão, é islamofobia”. Também foram ouvidos gritos de “Não se esqueçam da Charlie Hebdo”, em referência ao atentado de 2015 na França, quando 12 pessoas morreram após a revista francesa publicar caricaturas de Maomé.

Reações do governo e da imprensa

O presidente Recep Tayyip Erdogan condenou a publicação, chamando-a de “provocação disfarçada de humor”. Em pronunciamento na TV, declarou:

“Aqueles que demonstraram insolência com o Mensageiro de Deus prestarão contas perante a lei.”

Já a revista LeMan publicou uma nota de defesa:

“A charge representa uma crítica à guerra e ao sofrimento em Gaza. Muhammad é um nome comum, e a intenção não era satirizar o profeta. Pedimos desculpas por qualquer mal-entendido, mas não aceitaremos essa campanha contra a liberdade de expressão.”

Liberdade de imprensa em xeque

A repressão ao periódico reacende críticas ao estado da liberdade de imprensa na Turquia. O país figura em 159º lugar entre 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa 2025 da organização Repórteres Sem Fronteiras.

A Media Freedom Rapid Response (MFRR), entidade europeia que monitora violações à imprensa, condenou as prisões e pediu às autoridades que garantam a segurança e os direitos dos profissionais da comunicação.

“Esses ataques representam uma ameaça direta à liberdade de expressão e de imprensa. Críticas simbólicas, mesmo polêmicas, não devem ser criminalizadas”, afirmou a entidade em nota.

Por que charges de Maomé geram tanta reação?

Segundo o teólogo Rauf Ceylan, da Universidade de Osnabrück, a indignação é alimentada tanto por motivos religiosos quanto políticos.

“Representar o profeta visualmente é visto como blasfêmia na maioria das tradições islâmicas. Mas o principal fator é simbólico: essas charges são interpretadas como ataques à dignidade e identidade das comunidades muçulmanas”, explicou.

Ceylan observa que líderes religiosos e governos, como o da Turquia, frequentemente usam esses episódios como oportunidade para mobilização política e repressão a vozes dissidentes.

Com informações de Metrópoles

Artigo anteriorCBF planeja logística da Seleção para a Copa do Mundo de 2026. Entenda
Próximo artigoRoberto Cidade solicita recuperação da AM-240, estrada vital para a economia de Presidente Figueiredo