Por Carlos Santiago*

Ela melhorou a minha vida. Durmo e acordo com carinhos. Num certo dia, eu acordei indisposto e sem qualquer vontade de sair da cama, ela chegou e ficou comigo fazendo carícias até a minha indisposição passar. Em outro momento, eu estava escrevendo o meu artigo semanal sem qualquer inspiração, de repente ela apareceu, ficou parada em frente do computador, impedindo-me de trabalhar. Então, tive que ir passear com ela, depois de duas horas de caminhada, retornei e fiz um belo texto.

Quando saio ou chego em casa, sempre recebo sua demonstração de amor. Ela é o nexo que faltava na minha vida. A partir da nossa convivência, conheci novos amigos, novos lugares, outras formas de amar, brinquei demais e estudei comportamentos da natureza que estão muito além da limitada compreensão humana. Depois de conhecê-la, tornei-me um homem mais amoroso e tolerante.

Isso me fez refletir sobre o amor. Um sentimento que vai muito além das relações humanas. É uma emoção que nos faz amar a vida e os seres que compartilham a nossa existência. Quanto mais convivo com ela, cresce mais o nosso amor.

Claro que ela tem defeitos: é ciumenta, enjoada para comer, chora pedindo atenção, nasceu sem um dedo e com pernas finas e tortas. Mas não a escolhi pela sua distinção familiar ou formosura. Nem ela me escolheu pela beleza, crença ou condição financeira. Estamos juntos pelo amor e porque pessoas próximas nos colocaram no mesmo caminho da vida.

Dela nasce parte do meu equilíbrio para suportar viver num país no qual morrem crianças em operações policiais; num lugar onde facções criminosas dominam presídios e enormes áreas das cidades; em que há tantos partidos e políticos corruptos; um local no qual as instituições “públicas” são controladas pelo corporativismo; uma terra onde há tanta gente desempregada e um pequeno grupo de banqueiros bilionários; onde o ódio e a morte são lemas de governos.

Sua companhia e o seu amor me deixam esperançoso para não aceitar viver numa cidade em que a desigualdade social, a cada dia, afasta ainda mais as pessoas, com crenças religiosas cada vez intolerantes e sem os princípios de Cristo, com políticos ditos novos e velhos praticando o mesmo modelo espúrio de representação e de gestão pública, com transporte coletivo precário, com meio ambiente destruído e com uma falta de mobilidade urbana decente.

Hoje, ela faz 4 anos de vida. Quatro anos de muita sorte, de muita felicidade, de compreensão, de carinhos e de amor incondicional. Nem parece aquela cadelinha doente que foi resgata num porão de casa de madeira na fronteira do Brasil com Colômbia. Estamos alegres, eu e a minha esposa. Parabéns minha cadela Minie!
Isso tudo me faz lembrar do ensinamento do filósofo Arthur Schopenhauer quando afirmava que os focinhos confiáveis dos cachorros são os remédios para nos recuperar do eterno fingimento, da falsidade e perfídia dos seres humanos sem amor.
Assim, vamos seguindo na vida…com esperança, com tolerância e amando o próximo e todos que nos amam.

Sociólogo, Analista Político e Advogado.

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