Leio uma das manchetes do jornal O Globo: “Educação básica pode perder até R$21 bilhões”. Cá comigo fico a pensar que tamanho descalabro só pode ser mais uma presepada desse governo de fancaria. E é mesmo. Está em tramitação na Câmara dos Deputados projeto que estabelece teto para a alíquota do ICMS. Essa medida, se implementada e segundo os especialistas, será a responsável pelo esvaziamento do principal fundo de sustento do ensino público no país. Resta saber por que o governo está propondo a tal limitação. Não se trata do desejo de diminuir a carga tributária. Dá-se que, impossibilitado de conter a elevação dos preços dos combustíveis, o gênio Paulo Guedes encontra como saída golpear a educação, na tentativa de impedir que o diesel e a gasolina deem mais saltos astronômicos.

Que coisa! Nenhum país no mundo consegue estabelecer premissas elementares de desenvolvimento se não cuida da educação de seu povo. Tenho repetido neste espaço que, no Brasil, infelizmente nunca houve um programa de Estado para o setor educacional, de tal forma que as alterações sazonais, através das leis de diretrizes, não têm o condão de produzir um norte a ser perseguido, independente de quem esteja no poder. Mas, em sendo isso verdadeiro, não quer significar que se adotem políticas que, ao fim e ao cabo, vão terminar por piorar a situação já de si precária.

Não gosto de fazer comparações, mas tenho que lembrar. Na minha juventude as escolas públicas eram, em tudo e por tudo, superiores às particulares. Com professores remunerados de forma minimamente honesta, o quadro de magistério tinha luminares (só para citar de passagem) como Manoel Otávio Rodrigues de Souza e Otávio Mourão. O jovem terminava seu aprendizado de língua portuguesa na quarta série do curso ginasial, o que correspondia, na média, à idade de quatorze anos. No ciclo seguinte, o colegial de três anos, dedicava-se ao estudo de literatura nacional e estrangeira. Quero com isso significar que, aos dezoito anos, um estudante brasileiro, razoavelmente aplicado, estava em condições de ler e interpretar um texto.

Com a ditadura militar de 64 teve início um processo de desmantelamento da escola pública e de sucateamento do ensino por ela proporcionado. Consequência: floresceu uma possante indústria de ensino privado, de tal maneira que fortunas consideráveis foram (e continuam sendo) feitas, às custas de um ramo da estrutura social que é um dos deveres fundamentais do Estado.

Num quadro como o descrito, nem mesmo eu, que abomino Bolsonaro e seus asseclas, ousaria dizer que o panorama deplorável da educação é culpa de seu (des) governo. Claro que não é e insistir nessa afirmativa seria fazer vista grossa para a História. Isso, entretanto, não quer significar que Bozo e sua equipe de fanáticos não tenham grande parcela de responsabilidade pela piora gradativa do ensino público no país.

Esse episódio do ICMS é emblemático. Assim se externa o raciocínio governamental: se não podemos, por meios racionais, conter a subida dos preços de gasolina e diesel, vamos subsidiá-los tirando dinheiro de onde menos se vai sentir falta. Vamos assaltar a educação e reduzi-la à expressão mais simples. Não podemos é perder a eleição por causa de combustíveis.

Triste do nosso país que se vê às voltas com tamanha trapalhada. Maldito seja o governante que não consegue nem sequer vislumbrar a importância da educação para o futuro dos filhos desta grande Nação. E é um indivíduo desses que se diz cristão e patriota. Cristo jamais ensinou tamanha estupidez e a Pátria, esta precisa de verdadeiros amantes e não daqueles que usam o pavilhão nacional para enfeitar passeios de moto pagos com o dinheiro público.

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