Nos dias atuais, por causa da pandemia de Covid-19, vive-se entre o passado, aquilo que éramos antes do coronavírus, e o futuro, aquilo que desejamos que o mundo seja depois do distanciamento social. E o presente, onde fica? Como estamos vivendo o agora?

Será que não estamos superestimando essa doença? Será que não estamos esquecendo de viver o momento presente? Será que esquecemos que as dificuldades fazem parte da vida? Será que à vida humana não é superior a qualquer forma de vida desse Planeta? Ou será que aqui é mesmo um vale de lágrimas?

Diante de um quadro tão alarmante como esse em que vivemos atualmente no país, onde já se contabilizam mais de 70 mil mortos por causa da Covid19, de onde vem a nossa força? Como devemos agir? Nos resignar? Nos revoltar? Será que a solidariedade, o respeito mútuo, a confiança, o amor, podem nos ajudar diante dessas dificuldades?

Outro caminho seguro, pensamos, seja mesmo a fé, afinal foi o próprio Jesus que disse: “Se vós estiverdes em mim e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quisermos e vos será feito” (João, 15.7).

De fato, grande parte dos seres humanos, a maioria talvez, mesmo diante de suas ocupações diárias, tem os olhos voltados para o Sobrenatural, porque sabem que é de lá que vem o nosso socorro.

No entanto, perguntamos: quantos ao acordar, ou em qualquer outro momento do dia, elevam seu pensamento até Deus para louvá-Lo, indagar sobre o sentido da vida, ou ao menos agradecer-Lhe rapidamente os bens d´Ele recebido?

Dentre os muitos ensinamentos que já podemos deduzir dessa pandemia, o primeiro, e o mais importante, é que o materialismo não é tudo. Ou seja, sabemos que a economia é indispensável para o sustento do corpo, mas não o é para alcançar a felicidade.

Antes dessa pandemia, o ser humano, tão autossuficiente e cheio de si mesmo, trabalhava apenas para acumular bens, agora, espera-se, que ele trabalhe para ser feliz. Caso contrário, não serremos capazes de atravessar os mares tempestuosos que inundam a nossa vida.

Nossa vida, ensina Santo Agostinho, “deve ser conduzida numa mescla de ação e recolhimento. É na oração que o homem de fé recupera suas energias e adquire novas forças para empreendimentos mais ousados”.

Somente nesse processo de autoconhecimento que o ser humano encontra um dos mais eficazes meios para fortalecer a sua vida: à esperança. Sim, esperança é a palavra que deve marcar a vida de toda pessoa que deseja um mundo melhor, um país mais justo, uma sociedade mais igualitária.

Esperança é o sentimento que nos leva acreditar em dias melhores, que os cientistas, os profissionais de saúde, os pesquisadores, etc., vão encontrar à cura para esse vírus tão fatal. Esperança é esperar que os políticos pensem mais no povo e menos nos próprios interesses, no poder pelo poder.

Assim, ter esperança é acreditar que em nosso país os fundamentos da justiça estejam acima dos interesses particulares e partidários. Por fim, que o tratamento dos doentes com a Covid-19 no Brasil tenha à supremacia da ciência, e não da política, da economia ou da religião.

Luís Lemos

Filósofo, professor universitário e palestrante. Autor dos livros: O primeiro olhar – A filosofia em contos amazônicos (2011), O homem religioso – A jornada do ser humano em busca de Deus (2016); Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas: Histórias do Universo Amazônico (2019). E-mail: [email protected]

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