Por Carlos Santiago*

É possível e também muito importante filosofar. Não é uma atitude divina nem caracterizada pela manifestação de quem detém riqueza material. Filosofar é, por natureza, a maior expressão do homem, pois o raciocínio, a capacidade de reflexão, a razão e artes somente o ser humano possui.

E com a filosofia é possível refletir sobre as causas dos males da humanidade e dos efeitos de ideias e de atos que influenciam negativamente e, também, positivamente na vida das pessoas, porque a filosofia se preocupa com as causas primeiras.

A filosofia é, na concepção do filósofo Aristóteles, uma sabedoria ou ciência que contribui para as decisões certas, legislações boas, a busca do bem comum, porque leva os indivíduos à felicidade, a despertar a virtude. Filosofar é, ainda, uma manifestação do bem.
A sabedoria é melhor para governar, porque é fruto de decisões justas expressas por sábios, homens capazes que se dedicam ao bem, a fazer e promover coisas boas, independentemente de bens materiais. A maior riqueza é a sua alma disposta para o entendimento.

Filosofia não é apenas contemplação, reflexão, entendimento e vontade de aprender, é decisão necessária e certa a partir das experiências dos sábios, dos filósofos que buscam o justo e a vida feliz e livre.

Filosofar não é fácil quando as forças das sombras e das aparências são determinantes. É mais simples acreditar na falsa ideia, nas bonitas frases, na beleza corporal e na divindade “libertadora”. A missão de filosofar é difícil.

O indivíduo precisa estar disposto para a inteligência, para o saber, para buscar entender a beleza imaterial da filosofia, para os questionamentos que alimentam o fazer filosófico. É necessário se despir das vaidades tolas, das receitas prontas, do óbvio, do mundo estático e das dicotomias alienantes.

A miséria não é somente a falta de bens materiais, mas é também viver com ausência da contemplação filosófica, com ausência da natureza superior da alma que indica o melhor, o bem que liberta.

Embora antiga, com inúmeras definições ao longo dos tempos, a filosofia contribuiu com os rumos da humanidade. É sempre um ponto de reflexões nas mais diversas áreas do conhecimento. A partir da sabedoria filosófica o homem pode libertar-se e entender como funcionam as ideologias.

Inúmeros avanços na física, na medicina, nas engenharias, nas comunicações, na educação, nas psicologias, nas ciências biológicas e na matemática, aconteceram por meio de questionamentos filosóficos.

Porém, diferente da manifestação de Aristóteles que, em algumas passagens da obra Propréptico, eleva a filosofia à condição de um bem que prega virtude e faz a coisa certa, a filosofia pode ser instrumento de poder de pessoas poderosas que usam os conhecimentos para escravizar outras pessoas, outros povos, além da escravidão imposta pelas armas e pelo dinheiro.

O próprio Aristóteles explica e defende um modelo ideal de filosofia em que as mulheres, os escravos e pessoas humildes não podem participar. Mas, é claro, ele partilhou o pensamento do seu tempo, expôs relações sociais e valores da época. Hoje, talvez, pensasse muito diferente. Ele próprio disse que a vida não é ciência exata.

Recomendo a leitura de Protréptico – “Convite à Filosofia”- porque é muito gratificante, além de oferecer caminhos para filosofar, demostrando a importância da sabedoria na vida, na governança e na moral.

Ao filósofo cabe fazer o bem e agir objetivando boas decisões. Filosofar é uma condição humana. Não pode ser apenas atributo de quem tem riqueza, mas de todos que queiram um mundo com justiça, de pessoas livres e felizes.

Sociólogo, Analista Político e Advogado.

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