Reprodução/Metrópooles

Brasília — A crescente tensão entre o Congresso Nacional e o governo federal em torno do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) se transformou em uma verdadeira batalha de narrativas nas redes sociais, impulsionada por vídeos gerados com inteligência artificial (IA). De acordo com pesquisa da Genial Quaest, divulgada na sexta-feira (4/7), o Congresso tem sido o principal alvo da insatisfação pública: 61% das menções sobre o tema são negativas aos parlamentares, enquanto apenas 11% criticam o governo.

O restante das menções (28%) foram classificadas como neutras. A coleta de dados analisou 4,4 milhões de publicações entre os dias 24 de junho e 4 de julho, nas plataformas X (Twitter), Facebook, Instagram, YouTube, Reddit, Tumblr e portais de notícias.

PT usa IA em vídeos com apelo social

O Partido dos Trabalhadores (PT) lançou vídeos produzidos por IA para defender sua posição na disputa, com críticas ao modelo tributário atual. Uma das peças mais compartilhadas mostra uma balança desequilibrada, onde trabalhadores aparecem pesando mais que os super-ricos, simbolizando a desigualdade na carga tributária. A campanha adota o slogan: “Taxação BBB: Bilionários, Bancos e Bets”.

Especialistas apontam riscos democráticos

Segundo Magno Karl, cientista político da UFRJ e diretor do Livres, a IA já é realidade na política e será inevitável em 2026. Para ele, o grande desafio será a educação cética da população: “Cada pessoa se tornou um vetor de campanha. Mesmo com regulação, o controle pleno da disseminação de conteúdo é impraticável”.

João Ataide, especialista em IA e mestre em direito regulatório pela UnB, vê na atual crise do IOF um alerta claro para o que virá nas eleições de 2026. “Em 2018 tivemos fake news no WhatsApp; em 2022, vídeos descontextualizados. Agora, enfrentaremos conteúdos falsos gerados por IA — muito mais convincentes”, diz.

Ataide reconhece o esforço do TSE, mas alerta: “A Justiça não age com a mesma velocidade da viralização”. O órgão já proibiu deepfakes nas eleições de 2024 e prevê cassações de mandato em caso de uso de IA para desinformação, mas a aplicação dessas medidas em tempo hábil ainda é desafiadora.

A sofisticação dos vídeos e o desafio da rotulagem

O modelo Veo 3, lançado pelo Google, permite que vídeos gerados por IA simulem vozes humanas, ruídos ambientes e falas personalizadas, dificultando a distinção entre o real e o falso. Isso preocupa especialistas como Nauê Bernardo Azevedo, cientista político, que cobra maior rotulagem obrigatória nas plataformas.

“A maior ameaça não é apenas a fake news direta, mas o uso difuso e emocional de conteúdos que manipulam o espectador sem que ele perceba. É necessário combinar prevenção e punição para frear o mau uso dessas ferramentas”, alerta.

Congresso vs. Governo: o estopim

A escalada de críticas ao Congresso começou em 25 de junho, após os parlamentares derrubarem o decreto presidencial sobre o IOF, que previa a reoneração gradual das alíquotas para grandes operações financeiras. O Executivo alegou que a medida visava justiça tributária, enquanto o Legislativo acusou o governo de exceder sua competência.

A guerra informacional nas redes reflete não só um impasse político, mas também a evolução do debate público no ambiente digital, onde a IA já redefine os contornos da comunicação eleitoral.

Com informações de Metrópoles

Artigo anteriorAMOR PLATÔNICO (PARTE 4)
Próximo artigoFAB intercepta três aeronaves durante Cúpula do Brics no Rio de Janeiro