São Paulo — A delação de um mafioso italiano é vista por autoridades brasileiras como uma rica fonte de informação sobre as estruturas usadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho para enviar cocaína em grandes quantidades para a Europa.
Vicenzo Pasquino, apontado como articulador da máfia ‘Ndrangheta no Brasil, firmou um acordo com a Justiça italiana em que se comprometeu a revelar identidades e codinomes de criminosos brasileiros e a dar detalhes sobre como a máfia atuava em parceria com as redes de tráfico locais.
A decisão de Pasquino em colaborar com as autoridades deu origem a um grupo formado por procuradores italianos e brasileiros para investigar as relações entre o PCC e CV com a ‘Ndrangheta. O trabalho conjunto foi uma proposta do procurador nacional antimáfia italiano, Giovanni Melillo.
Em outubro, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi até Roma para se reunir com Melillo e definir o funcionamento da força-tarefa internacional. O promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP), principal responsável pelas investigações sobre PCC no Brasil, também esteve presente.
Promotores do Gaeco, ouvidos pelo Metrópoles, afirmam que a expectativa é que a delação de Pasquino traga detalhes importantes sobre o setor do PCC responsável pela exportação de cocaína e pelas relações com organizações criminosas estrangeiras, a chamada Sintonia do Tomate
A estimativa do Gaeco é que o PCC lucre pelo menos R$ 10 bilhões mediante cocaína escoada para outros continentes por meio do Porto de Santos, principal porta de saída do país para a droga.
O órgão do Ministério Público já mapeou a presença de integrantes do PCC em pelo menos 23 países e em cinco continentes. Segundo os promotores, a facção está tentando ampliar seus poderes internacionais por meio de presídios em diferentes países, com faccionados detidos batizando novos membros. A ideia é que, quando forem soltos, eles passem a atuar para o PCC.
Segundo o Setor de Inteligência da PM, mesmo com a proximidade linguística com outros países europeus, que seriam inclusive mais próximos ao Brasil, a Itália segue sendo o principal ponto de entrada da cocaína enviada pelo PCC, em razão da parceria com a ‘Ndrangheta. Mais especificamente, o porto de Gioia Tauro.
Prisão de Pasquino
Além da delação de Pasquino, as autoridades brasileiras que integram a força-tarefa estão em busca de informações obtidas durante diferentes investigações italianas. Entre elas, a Operação Eureka, que envolveu polícias da Itália, França, Bélgica, Alemanha, Eslovênia e Espanha, contra um esquema que teria movimentado mais de R$ 36 bilhões.
A prisão de Pasquino, em maio de 2021, ocorreu como um desdobramento da Operação Eureka, em João Pessoa, na Paraíba.
O mafioso veio para o Brasil, em 2017, para trabalhar com o envio de drogas para a Itália. Estabeleceu-se primeiro no Paraná e, depois, mudou-se para São Paulo, após a prisão de outros mafiosos que atuavam em parceria com o PCC. No Tatuapé, zona leste da capital, ele exercia a liderança da Sintonia do Tomate.
Em 2019, Pasquino tornou-se foragido da Justiça italiana, diante da acusação de que seria o principal intermediário da máfia na América do Sul. Com informações de Metrópoles.