
Com os avanços na identificação dos sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA), mais pessoas têm recebido o diagnóstico nos últimos anos. Ainda assim, o tempo continua sendo um fator decisivo para o desenvolvimento da criança autista. O diagnóstico precoce, inclusive nos primeiros meses de vida, pode proporcionar melhores resultados no tratamento e na adaptação da criança ao ambiente.
Durante o congresso Brain 2025, realizado em Fortaleza entre os dias 18 e 21 de junho, a psicóloga clínica e professora de psiquiatria da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Catherine Lord, defendeu a importância da identificação precoce do autismo. Reconhecida internacionalmente por suas pesquisas na área, a especialista afirma que diagnosticar o transtorno antes dos quatro anos permite que a criança desenvolva com mais eficácia a comunicação e linguagem.
“Quando diagnosticamos cedo, podemos trabalhar melhor na comunicação e, particularmente, na linguagem do paciente. Isso faz muita diferença e impacta também as famílias”, explicou a pesquisadora.
Primeiros sinais e papel dos cuidadores
De acordo com Catherine, o autismo se manifesta de forma diversa e não existe um caminho único para cada criança. Por isso, é essencial acompanhar de perto o desenvolvimento nos primeiros anos de vida.
Alguns sinais podem surgir entre o primeiro e segundo ano de vida, como:
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Falta de resposta ao próprio nome;
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Pouco ou nenhum uso de vocalizações;
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Desinteresse por chamar atenção;
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Ausência de brincadeiras compartilhadas.
A partir dos dois anos de idade, os sintomas tendem a se tornar mais evidentes. Comportamentos repetitivos, reações intensas a pequenas mudanças e dificuldades com regras sociais são comuns.
O diagnóstico do TEA deve ser feito por profissionais especializados, por meio de avaliação clínica detalhada e aplicação de testes específicos. A especialista lembra que, muitas vezes, os primeiros sinais não são percebidos pelos pais, mas sim por professores, cuidadores ou outros familiares.
Desafios da realidade após o diagnóstico
Embora o diagnóstico de TEA seja mais conhecido atualmente, ainda é emocionalmente desafiador para as famílias. Catherine Lord reforça que o autismo passa a fazer parte da identidade da criança, o que exige uma reconstrução das expectativas dos pais.
“Demora tempo para acostumar com a ideia de que a criança não será o que o pai achou que seria. É um caminho difícil”, afirma.
O apoio familiar é fundamental, mas a rotina nem sempre permite dedicação integral ao cuidado do filho. Muitos pais precisam conciliar o acompanhamento da criança com trabalho, outros filhos ou restrições financeiras. Nesses casos, é importante estabelecer prioridades e buscar ajuda profissional sempre que possível.
“É preciso encontrar uma atividade prazerosa para que pais e filhos compartilhem juntos. Identificar as necessidades mais urgentes da criança e adaptar o suporte é papel do profissional de saúde”, orienta a especialista.
Recomendações para os pais
Entre os conselhos da pesquisadora americana para famílias que receberam recentemente o diagnóstico de TEA estão:
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Evitar informações não confiáveis, como vídeos sensacionalistas em redes sociais;
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Procurar grupos de apoio de pais de crianças autistas;
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Utilizar guias orientativos, como os “100 primeiros dias com autismo”;
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Estabelecer uma rede de apoio confiável, que pode incluir psicólogos, fonoaudiólogos, professores e médicos.
Acima de tudo, Catherine enfatiza que o mais importante é conhecer e escutar a criança. O diagnóstico precoce, combinado com o envolvimento familiar e apoio profissional, pode transformar significativamente a trajetória de uma pessoa com autismo.
Com informações de Metrópoles