
Dois pacientes norte-americanos foram infectados por vermes parasitas do tipo Strongyloides stercoralis após receberem rins transplantados de um mesmo doador. O caso raro foi detalhado em um relato publicado na revista científica The New England Journal of Medicine, em 18 de junho.
O primeiro caso ocorreu com um homem de 61 anos, que foi hospitalizado dez semanas após o transplante apresentando sintomas graves: náuseas, vômitos, febre, dores abdominais e nas costas, além de sede excessiva e manchas roxas na pele. O quadro se agravou rapidamente, evoluindo para falência respiratória e queda da pressão arterial.
Após diversas análises e descartadas outras hipóteses, médicos identificaram altos níveis de eosinófilos — células do sistema imunológico que costumam reagir a infecções parasitárias. Novos exames, incluindo análise de tecidos do abdômen, pulmões e pele, confirmaram a presença disseminada dos vermes no organismo. O paciente recebeu tratamento antiparasitário e se recuperou.
Doença foi transmitida pelo doador
Com a confirmação da infecção, os médicos notificaram o sistema nacional de transplantes dos EUA, que emitiu alerta para que outros receptores de órgãos do mesmo doador fossem monitorados. Isso possibilitou o diagnóstico precoce e o salvamento do segundo paciente, um homem de 66 anos, que havia recebido o outro rim e apresentava sintomas semelhantes em outro hospital.
De acordo com o estudo, exames mostraram que o doador já possuía anticorpos contra o Strongyloides stercoralis, o que indica que ele era portador do parasita antes da doação dos rins — ainda que sem sintomas aparentes.
Infecção por transplante é rara, mas grave
Infecções decorrentes de transplantes são extremamente raras. Segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), cerca de 14 casos ocorrem a cada 10 mil transplantes realizados nos Estados Unidos. No entanto, quando envolvem parasitose como a estrongiloidíase, o risco de complicações aumenta, especialmente em pacientes imunossuprimidos — como é o caso dos transplantados.
A situação ressalta a importância de triagens mais rigorosas, especialmente em doadores oriundos de regiões tropicais, onde o verme é mais comum.
“Transplantes salvam vidas. Mas, em casos como esse, a comunicação entre hospitais, médicos e redes de transplante é fundamental para garantir a segurança de todos os pacientes”, disse um dos médicos envolvidos, em entrevista ao Live Science.
O que é o Strongyloides stercoralis?
O Strongyloides stercoralis é um verme que infecta seres humanos por meio do contato da pele com solo contaminado. Em pessoas saudáveis, a infecção costuma ser leve ou assintomática, mas em pacientes imunocomprometidos pode levar à disseminação sistêmica da parasitose, com risco de morte.
Com informações de Metrópoles