Trabalhadores varrem a terra de uma montanha de trigo em 22 de abril de 2025, em um mercado atacadista em Chandigarh, Índia - AFP

A economia global deverá registrar um crescimento de apenas 2,8% neste ano, segundo projeção divulgada nesta terça-feira (22) pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A desaceleração é atribuída à instabilidade provocada pelas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelas medidas de retaliação adotadas por diversos países.

Desde fevereiro, o governo norte-americano implementou diversas rodadas de tarifas direcionadas a parceiros comerciais e nações concorrentes, que, em muitos casos, responderam com ações equivalentes.

Inicialmente, os mercados reagiram com relativa estabilidade. No entanto, a adoção de tarifas “recíprocas”, anunciadas em 2 de abril, provocou quedas acentuadas nas bolsas de valores. Uma leve recuperação foi observada após o anúncio de uma suspensão parcial e concessões específicas por parte do governo dos EUA.

O relatório do FMI destaca que a “rápida intensificação das tensões comerciais e os níveis excepcionalmente elevados de incerteza política” devem exercer “impacto substancial sobre a atividade econômica global”. A organização ressalta que se trata de uma “previsão de referência”, baseada em dados disponíveis até 4 de abril.

A análise do Fundo considera as alterações tarifárias vigentes até essa data, mas não contempla as possíveis medidas retaliatórias entre Pequim e Washington.

“Estamos ingressando em uma fase de reconfiguração do sistema econômico global tal como o conhecemos nos últimos 80 anos”, afirmou Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do FMI, durante entrevista coletiva.

Como evidência do impacto das tarifas alfandegárias, o relatório destaca que o comércio global de bens e serviços deverá crescer apenas 1,7% em 2025 — substancialmente abaixo da previsão anterior de 3,2%, divulgada há três meses.

Apesar do crescimento global projetado de 2,8% representar uma redução de 0,5 ponto percentual em relação à expectativa anterior, o FMI acredita que a economia mundial conseguirá evitar uma recessão.

Entretanto, o México deverá enfrentar consequências severas. De acordo com o Fundo, a economia mexicana terá uma contração de 0,3% em 2025 — uma queda de 1,7 ponto percentual em comparação com as previsões anteriores. Entre os fatores citados estão os efeitos das tarifas norte-americanas, a desaceleração econômica, a incerteza política e o endurecimento das condições de financiamento.

Esse desempenho negativo da segunda maior economia da América Latina impacta diretamente o cenário regional.

Para a América Latina e o Caribe, a expectativa é de que o crescimento econômico atinja 2,0% em 2025 — uma redução de 0,5 ponto percentual — e se recupere para 2,4% em 2026, ainda 0,3 ponto percentual abaixo das estimativas anteriores.

O risco de recessão continua a rondar tanto a economia global quanto a dos Estados Unidos.

Segundo o FMI, “as tarifas funcionam como um choque de oferta nos Estados Unidos — provocando queda na produtividade e na produção, além de elevação nos preços — e como um choque de demanda em outras regiões, reduzindo a atividade econômica e pressionando os preços para baixo”.

Impactos diferenciados por região

Além do México, os demais países da América do Norte também tiveram suas perspectivas econômicas significativamente revistas. Para os Estados Unidos, projeta-se crescimento de 1,8% em 2025 — uma redução de 0,9 ponto percentual em relação à previsão anterior. O Canadá, por sua vez, deve crescer 1,4%, com recuo de 0,6 ponto percentual.

A China, principal alvo das tarifas norte-americanas — que totalizam 145% sobre diversos produtos, além das tarifas anteriores à retomada do governo Trump — também deverá sentir impactos significativos. A previsão é de que o país registre o menor crescimento desde 1990, com expansão de apenas 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

Na zona do euro, a expectativa é de um desempenho mais favorável, embora ainda impactado negativamente pelas tarifas, o que pode limitar a modesta recuperação econômica, mesmo diante do aumento dos gastos públicos em países como a Alemanha. Segundo Gourinchas, maiores investimentos em infraestrutura poderiam contribuir para acelerar o crescimento na região.

A Espanha surge como exceção positiva: com crescimento expressivo nos últimos dois anos, o país teve sua previsão ajustada para 2,5% em 2025 — a maior taxa entre as economias avançadas, de acordo com o FMI.

Outro efeito colateral das tarifas deverá ser o aumento da inflação nas economias desenvolvidas. A expectativa é de que o índice atinja 2,5% em 2025 nessas economias, podendo chegar a cerca de 3% nos Estados Unidos.

Com informações de IstoÉ

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