Desde 7 de outubro, Israel e a Faixa de Gaza estão sob os holofotes do mundo. Sempre que uma nova guerra surge, jornalistas locais e de várias partes do planeta vão até a zona de conflito mostrar aquilo que só dá para saber vendo com os próprios olhos. Mas contar esta história tem sido cada vez mais difícil. E perigoso. Em apenas um mês, 37 profissionais da mídia foram mortos enquanto cobriam a guerra entre Israel e Hamas — mais que o dobro do total registrado em 20 meses de confronto na Ucrânia, segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ).

O número também supera a soma de todas as mortes registradas em Israel e nos territórios palestinos desde 1992, quando começou a série histórica. Dos 37 jornalistas mortos até o momento — mais de um por dia — 32 eram palestinos, quatro, israelenses, e um, libanês. Por trás da mortalidade recorde, há ainda tentativas de censura, ameaças, prisões arbitrárias, ataques a redações e familiares se tornando alvo, denuncia o CPJ.

Um dos profissionais afetados pela guerra é o palestino Nizar Sadawi, 36, correspondente da emissora turca TRT World em Gaza. Jornalista há 17 anos, ele e sua família precisaram abandonar suas casas por causa do conflito. “Sem teto” e sem proteção — já que Israel declarou que não poderia garantir a segurança da imprensa na região — a única maneira que encontrou para ficar “relativamente seguro” foi se abrigar em um hospital. No entanto, diversas organizações internacionais, como a ONU e a Cruz Vermelha, têm denunciado ataques a centros de saúde.

— É praticamente impossível [estar seguro]. Mesmo que a gente use coletes e veículos sinalizando que somos da imprensa, eles não miram em uma ou duas pessoas, mas em um prédio inteiro. Se você estiver lá dentro quando desabar, nada importa — conta Sadawi ao GLOBO por telefone de Gaza. — Não dá para ver claramente os capacetes, então toda vez que vamos gravar do lado de fora do hospital à noite, estamos nos expondo.

Na avaliação de Sadawi, a alta mortalidade dos profissionais em Gaza é mais um “dano colateral” da intensa campanha de Israel — que já matou mais de 10 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas — do que fruto de ataques deliberados. Ainda assim, a perda dos colegas é sentida por todos.

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— É importante ter em mente que Gaza é uma comunidade de 365km², o que significa que a maioria de nós [jornalistas] se conhece, ao menos pelo nome. Ontem mesmo, por exemplo, um colega muito respeitado foi morto. Ele era um correspondente famoso da TV Palestina. Nós não éramos amigos, mas todo mundo gostava dele — relata Sadawi em referência a Mohammed Abu Hatab, morto após um ataque aéreo atingir seu prédio na última quinta-feira, vitimando também 11 membros da sua família.

Para o correspondente, mais do que a preocupação com a própria integridade física, seu maior temor é que algo aconteça com a família e a namorada.

— Quando você tem pessoas que ama em uma zona de guerra, fica mais difícil — conta. — O que mais me preocupa durante a guerra é que minha família e minha namorada estão aqui. O fato de a comunicação ser difícil também está piorando as coisas, mal consigo falar com eles uma vez a cada um ou dois dias e até mesmo as mensagens demoram a chegar.

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