
Uma empresa que reúne mais de 40 atividades comerciais, mas que não possui sede física identificável, funcionários registrados e que está vinculada a contratos com prefeituras do interior do Amazonas — esse é o perfil da CJ Comércios e Serviços, pertencente a Cesar de Jesus Glória Albuquerque, um dos três empresários flagrados pela Polícia Federal na última terça-feira (20), no Aeroporto de Brasília, com R$ 1,25 milhão em espécie nas bagagens.
A Polícia Federal investiga a suspeita de que a empresa funcione como uma fachada para movimentação de recursos de origem ainda não esclarecida. Imagens obtidas por meio do Google Maps, com atualização mais recente de agosto de 2024, mostram que o endereço declarado por Cesar em depoimento à PF — BR-174, Km 179, comunidade Nova Jerusalém, em Presidente Figueiredo (AM) — corresponde, na prática, a uma parada de ônibus à beira da rodovia. Não há qualquer sinal de estrutura empresarial no local.
“Faz-tudo”, sem sede nem funcionários
Segundo informações do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), a CJ Comércios e Serviços lista como atividade principal o comércio varejista de produtos alimentícios. No entanto, chama a atenção a quantidade de atividades secundárias registradas: mais de 40, abrangendo desde venda de roupas, manutenção de máquinas e papelaria, até serviços funerários, arquitetura, turismo, veterinária e construção civil.
Apesar da diversidade de ramos, a empresa não possui qualquer funcionário registrado, conforme apurado por investigadores. O capital social declarado é de R$ 2,5 milhões, e consta a posse de pelo menos cinco veículos, incluindo três micro-ônibus, uma caminhonete e uma retroescavadeira.
Durante depoimento à Polícia Federal, Cesar afirmou que é proprietário da empresa desde 2018 e declarou uma renda mensal de aproximadamente R$ 20 mil. Segundo ele, os principais contratos da empresa envolvem prestações de serviço para prefeituras do interior amazonense — entre elas, a de Coari, administrada por Adail Pinheiro.
Cesar afirmou ainda que os micro-ônibus são usados para transporte escolar e que sua viagem a Brasília tinha como objetivo a compra de dois novos veículos localizados, supostamente, em Goiás. Questionado sobre onde exatamente estariam esses veículos, o empresário disse não saber informar.
Investigação segue com foco em contratos públicos
A Polícia Federal segue investigando a origem e o destino do dinheiro apreendido, além da legalidade dos contratos firmados pela CJ Comércios e Serviços com entes públicos. O uso de empresas com múltiplas atividades, ausência de sede real e vínculos com prefeituras têm sido apontados por especialistas como indícios recorrentes em esquemas de desvio de recursos públicos.
O caso levanta novas suspeitas sobre a relação entre empresários do setor de serviços e administrações municipais no Amazonas, com foco especial em contratos sem licitação, serviços terceirizados e pagamentos vultosos com justificativas frágeis.