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SÃO PAULO – Durante décadas, pessoas nascidas com malformações cardíacas, conhecidas como cardiopatias congênitas, foram desencorajadas a praticar atividades físicas. No entanto, uma nova pesquisa desenvolvida no Hospital das Clínicas da USP aponta justamente o contrário: com acompanhamento adequado, o exercício pode ser não só seguro, como altamente benéfico para esse grupo.

O estudo foi conduzido pela profissional de educação física Daniela Regina Agostinho, como parte de seu doutorado, e acompanhou 42 adultos com idade média de 30 anos, todos com diagnóstico de cardiopatia congênita. Os voluntários foram divididos em dois grupos: metade seguiu um programa domiciliar de exercícios físicos e a outra metade manteve a rotina habitual, sem atividade física orientada.

Treinos acessíveis e progressivos

O programa, realizado ao longo de três meses, foi composto por 12 aulas gravadas com duração de 40 a 45 minutos, feitas quatro vezes por semana. Os treinos começaram com intensidade leve e progrediram até níveis moderados e intensos, incluindo exercícios aeróbicos (como polichinelos e corrida estacionária) e de resistência muscular, inicialmente com o peso do corpo e, depois, com o auxílio de faixas elásticas.

“Os participantes tinham baixo condicionamento físico, excesso de gordura corporal e, em alguns casos, indícios de síndrome metabólica”, explica Agostinho. Ao final do período, os voluntários passaram por exames clínicos, avaliações musculares, respiratórias e cardiovasculares, além da análise da composição corporal, do IMC e da taxa metabólica basal.

Os pesquisadores também avaliaram o fluxo sanguíneo no antebraço e a qualidade de vida dos participantes, com base em questionários sobre saúde física, bem-estar mental e vitalidade.

Resultados positivos e melhoria geral da saúde

Os resultados apontaram melhoria significativa na composição corporal, com redução da gordura e aumento da massa magra, além de melhora nos níveis de colesterol, triglicerídeos e da proteína C reativa (PCR), importante marcador inflamatório.

Também houve avanços nos domínios de capacidade funcional e vitalidade. “Mostramos que os exercícios são seguros e eficazes, mesmo quando realizados em casa, desde que orientados corretamente”, afirma Agostinho.

A cardiologista Luciana Janot, especialista em reabilitação cardiovascular no Hospital Israelita Albert Einstein, reforça a importância da iniciativa. “Muitos pacientes vivem no sedentarismo por insegurança, mas o estudo mostra que a atividade física pode ser viável e benéfica mesmo em casos mais complexos, desde que bem acompanhados.”

Acompanhamento médico é essencial

Apesar dos benefícios, especialistas alertam que a liberação para prática de exercícios deve ser individualizada. “As cardiopatias congênitas são muito variadas, com graus diferentes de complexidade”, explica Janot. “Algumas exigem monitoramento rigoroso, enquanto outras permitem maior liberdade de movimento.”

Em pacientes com estabilidade clínica, mesmo quadros mais graves podem ser compatíveis com exercícios adaptados. “O que muda é a intensidade, que deve ser ajustada caso a caso”, acrescenta Agostinho. “Por outro lado, em situações como arritmias não controladas, o esforço pode ser contraindicado.”

A conclusão do estudo reforça um novo paradigma: com avaliação médica e orientação profissional, pessoas com cardiopatias congênitas não apenas podem como devem se movimentar para viver com mais qualidade e saúde.

Com informações de Metrópoles

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