
Pesquisadores identificaram um mecanismo biológico que pode elucidar a relação entre a alimentação e o desenvolvimento de tumores agressivos de mama. O agente implicado é o ácido linoleico, um tipo de gordura presente em óleos vegetais amplamente consumidos no Brasil, como os de soja e cártamo.
A pesquisa, conduzida por cientistas da Weill Cornell Medicine, nos Estados Unidos, foi publicada na revista Science em 14 de março. Os resultados indicam que essa gordura do tipo ômega-6 pode ativar uma via de crescimento celular associada ao câncer de mama triplo negativo, considerado um dos subtipos mais desafiadores, por não responder à hormonioterapia nem a tratamentos-alvo.
Mecanismo de ação do ácido linoleico
Em experimentos realizados com culturas celulares e modelos murinos, os pesquisadores observaram que o ácido linoleico ativa uma proteína denominada mTORC1, envolvida na regulação do crescimento e da proliferação celular. Esse efeito, entretanto, foi observado exclusivamente em tumores triplo negativos.
A explicação está relacionada à presença aumentada de uma proteína chamada FABP5 nesse subtipo tumoral. Essa proteína atua como mediadora entre o ácido linoleico e a ativação da mTORC1, criando um ambiente bioquímico mais propício à progressão da doença.
Em modelos animais com câncer de mama triplo negativo submetidos a dietas com alto teor de ácido linoleico, foram identificados níveis mais elevados de FABP5, maior ativação da mTORC1 e crescimento tumoral acelerado.
Implicações clínicas e nutricionais
Além de confirmar a influência direta do ácido linoleico na progressão tumoral, os pesquisadores identificaram altas concentrações de FABP5 e ácido linoleico no sangue de pacientes recentemente diagnosticadas com câncer de mama triplo negativo. Esses achados sugerem que a FABP5 pode atuar como biomarcador, com potencial para orientar tanto estratégias terapêuticas quanto recomendações alimentares personalizadas.
“Nosso estudo demonstra como um componente da dieta pode afetar diretamente o crescimento tumoral e fornece indícios de como adaptar a alimentação conforme o tipo de câncer”, afirmou John Blenis, autor sênior da pesquisa, em comunicado oficial.
Potenciais impactos em outras doenças
Embora o foco da investigação tenha sido o câncer de mama, os autores ressaltam que a mesma via de sinalização mediada pela FABP5 pode estar envolvida em outros tumores agressivos, como determinados tipos de câncer de próstata.
Além disso, os resultados levantam hipóteses sobre o papel do ácido linoleico em doenças metabólicas crônicas, como obesidade e diabetes, uma vez que a mTORC1 também regula funções metabólicas amplas no organismo.
Implicações práticas
Embora o estudo não recomende a eliminação completa desses óleos da dieta, ele aponta que, em determinados contextos — especialmente em pacientes com câncer triplo negativo — o consumo excessivo de ácido linoleico pode ser prejudicial.
O próximo passo da equipe de pesquisa será investigar se a redução do consumo desse ácido graxo pode exercer impacto positivo no tratamento e na evolução do câncer.
Com informações de Metrópoles