O Bluesky acredita que, mesmo que o X retorne ao país, a criação de um ambiente mais saudável e seguro será seu diferencial para manter os usuários na plataforma. “Uma das coisas das quais estamos orgulhosos é que o Bluesky é dirigido por duas mulheres. Por que estamos orgulhosos disso? Porque colocamos a segurança em primeiro lugar”, afirma a COO (Chief Operating Officer) da empresa, Rose Wang, em entrevista exclusiva ao site IstoÉ Dinheiro.
“Nossa esperança é que os brasileiros entendam que somos diferentes e que estamos tentando tornar as mídias sociais muito melhores para a próxima geração, muito mais seguras, mais divertidas e oferecendo mais escolhas aos usuários”, diz a diretora de operações da Bluesky. “Estamos tentando colocar o social de volta nas mídias sociais.”
Uma operação no Brasil está descartada, já que a empresa trabalha no momento em formato totalmente remoto. “É importante para nós ter pessoas na equipe que representem os usuários globais”, diz. Ela destaca, porém, que estão abrindo algumas vagas para engenheiros de software brasileiros.
Em relação à fonte de financiamento para a operação, a empresa opera atualmente com venture capital. “Ficaremos assim por um tempo e não precisamos nos preocupar com receita”, diz Wang. Não haverá venda de anúncios e de contas premium por ora. “Queremos ver onde os usuários estão encontrando valor e não queremos cobrar dinheiro até que realmente faça sentido”, diz.
O Bluesky tem hoje 18 funcionários, metade deles co-fundadores, além de uma equipe de moderação cujo tamanho não é informado. O formato pequeno é inspirado em outras startups como Instagram e Facebook. “Tivemos 2,6 milhões de usuários se juntando e o aplicativo não saiu do ar”, defende Wang. “Portanto, não precisamos expandir nossa equipe.”
Moderação sob comando de demitido por Musk
Wang garante que o time de moderação é capaz de cobrir todos os idiomas e todos os países do mundo. “É importante para os usuários saberem que temos cobertura global 24 horas e respondemos às denúncias dentro de 24 horas.”
Qualquer usuário pode denunciar uma postagem por aspectos como conteúdo sexual não sinalizado, comportamento anti-social, spam ou crimes. A equipe de moderação avalia e toma medidas como inserir um rótulo na postagem, diminuir seu alcance ou até apagar a conta. Com o aumento de brasileiros, a derrubada de perfis foi 2,5 vezes maior do que a média semanal da plataforma.
Usuários também podem criar rótulos para atribuir a posts que considerem inapropriados, assim como feeds personalizados e listas de perfis para bloqueio. Outras ferramentas permitem remover posts desagradáveis ou menções por perfis indesejados, para que cada um tenha controle sobre as conversas em sua própria conta.
Segundo Wang, 30% dos usuários do Bluesky postam, contra uma média de 10% em outras redes, justamente pela segurança da plataforma. Para provar a credibilidade do time moderador, ela menciona também o chefe de segurança e confiança da plataforma, Aaron Rodericks. “Ele tem mais de uma década de experiência e viveu muitas eleições, incluindo várias eleições brasileiras”, diz Wang.
No Twitter sob administração de Jack Dorsay, Rodericks chefiava a equipe de integridade eleitoral, responsável por assegurar eleições ao redor do mundo contra maus usos da rede social. Após a compra da plataforma por Elon Musk, Rodericks tornou-se co-coordenador da área que antes chefiava até ser demitido em novembro de 2023.
Junto com Rodericks, foi demitido todo o time. O departamento de integridade eleitoral deixou de existir. Segundo o jornal irlandês Business Post, Rodericks processou Musk por difamação em meio a sua demissão. O caso chegou ao fim com um acordo assinado em fevereiro de 2024. Dias depois, a contratação de Rodericks pelo Bluesky foi anunciada.
Bluesky segue sem representação legal no Brasil
Acusações de crimes políticos estão no cerne da suspensão do X no Brasil. Foi no processo sobre fakes news e a tentativa de golpe de estado em 8 de janeiro de 2022 que surgiram as ordens do Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar contas na plataforma. Mas o ponto de suspensão para a suspensão da plataforma foi a ausência de representação legal no país.
O Bluesky porém tampouco nomeou seu representante legal até agora.
“Estamos trabalhando com entidades locais para ter representação em breve”, diz Wang. “Pretendemos estar totalmente em conformidade legal para operar no Brasil”.
Ela não informou, porém, quanto tempo levará para este representante ser definido.
Envolvimento de brasileiros
Rose Wang conta que, quando os primeiros 10 mil usuários chegaram ao Bluesky, em meados de 2022, já havia brasileiros entre eles. “Acho que fãs de Taylor Swift no Brasil foram uma das nossas primeiras comunidades, em seguida, acredito que a comunidade LGBTQ+ no Brasil nos encontrou. Em abril [de 2024], veio outra grande onda de brasileiros.”
No entanto, para que os internautas do país de fato aproveitem a descentralização, é necessário envolvimento da comunidade de desenvolvedores. Wang explica com uma comparação com a televisão. Se antigamente havia um número limitado de canais, com a internet é possível consumir conteúdo criado em diversos formatos, em inúmeras plataformas. “Há 50.000 feeds para você escolher.”
Wang menciona planos de fazer eventos para estimular os engenheiros no país. “O que queremos fazer é convocar todos os desenvolvedores brasileiros e dizer: ‘Ei, seu país está aqui. Vamos começar a criar jogos divertidos, aplicativos legais para eles’”, diz. “Isso cria uma experiência muito mais democrática nas mídias sociais. Você pode criar uma experiência muito mais saudável porque as pessoas têm necessidades diferentes, países diferentes têm necessidades diferentes.”
Com informações de IstoÉ