Felipe Menezes/Metrópoles

Às vésperas do 1º de Maio, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue discutindo medidas para conter o aumento dos preços dos alimentos, mas ainda não encontrou um consenso interno. A alta da inflação alimentícia continua pressionando o orçamento dos trabalhadores brasileiros e representa um dos principais desafios para a gestão petista.

Nesta sexta-feira (25/4), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial, registrou alta de 0,43% em abril, puxado principalmente pelo grupo de alimentação e bebidas, com variação de 1,14% — a maior entre os grupos analisados.

No início do mês, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o governo prepara novas regras para o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), considerada a principal aposta para tentar conter o encarecimento da comida. Segundo Haddad, as novas diretrizes sobre o vale-alimentação (VA) e o vale-refeição (VR) deverão ser divulgadas até maio.

O governo avalia que as elevadas taxas cobradas por estabelecimentos que aceitam vales acabam sendo repassadas aos consumidores, pressionando os preços das refeições. Com mudanças no modelo de operação, espera-se que os custos sejam reduzidos e, indiretamente, contribuam para o controle da inflação.

Entenda o PAT

O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) é uma iniciativa federal que concede benefícios de alimentação a trabalhadores que recebem até cinco salários mínimos. A adesão ao programa é facultativa, mas as empresas participantes usufruem de incentivos fiscais desde que ofereçam o benefício a todos os funcionários.

Entre as propostas em análise, estão a regulamentação da portabilidade — que permite ao trabalhador escolher o cartão de recebimento — e da interoperabilidade, que possibilita o uso de uma única máquina de cartão para diferentes benefícios. Supermercados sugeriram ainda a criação do “PAT eSocial”, integrando os benefícios a uma nova plataforma de gestão.

Apesar das discussões, empresas do setor de benefícios avaliam que as mudanças não impactariam diretamente nos preços dos alimentos.

Debates e impasses

As propostas de reformulação foram debatidas em reunião no dia 9 de abril, envolvendo Haddad, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. No entanto, a proposta de integrar os cartões ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) ou substituir o vale por repasses via Pix enfrenta resistência do Banco Central, que não considera esses benefícios como instrumentos tradicionais de pagamento.

A implementação do chamado Pix-PAT exigiria a aprovação de uma nova lei ou de uma medida provisória, além do desenvolvimento de soluções tecnológicas específicas. Portanto, mesmo que adotadas, essas medidas não surtiriam efeitos imediatos sobre a inflação dos alimentos.

Banco Central se posiciona

O Banco Central reforçou que a gestão do PAT ultrapassa suas atribuições, sendo uma questão de política pública de trabalho e alimentação. Renato Gomes, diretor da autoridade monetária, afirmou que os arranjos do PAT “não têm relevância sistêmica” e que a regulamentação do segmento não caberia ao BC.

A alternativa seria transferir a competência regulatória para o Conselho Monetário Nacional (CMN), composto pelo próprio BC e pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Propostas divergentes

Enquanto a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) propõe o pagamento dos benefícios diretamente pela Caixa Econômica Federal, eliminando taxas, a Associação Brasileira de Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT) sugere a concessão de descontos temporários a pequenos comerciantes. A ABBT, porém, se posiciona contra a portabilidade e o modelo de pagamento via Pix, alegando riscos de desvio da finalidade dos benefícios.

A entidade também defende que o PAT não deve ser tratado como um “vale qualquer” e adverte que o pagamento em dinheiro poderia desvirtuar a utilização do auxílio, comprometendo a segurança alimentar dos trabalhadores.

Portabilidade e interoperabilidade: entraves na regulamentação

Uma lei de 2022 garantiu a portabilidade dos cartões de alimentação, permitindo que o trabalhador escolha sua operadora. Contudo, a regulamentação ainda não foi implementada devido a entraves técnicos e políticos.

A interoperabilidade, que permitiria a integração das redes de aceitação dos benefícios, também aguarda definição. Embora seja tecnicamente mais simples de implantar, sua comunicação pública é mais complexa, pois afeta diretamente os estabelecimentos comerciais.

Atualmente, o PAT beneficia cerca de 21,5 milhões de brasileiros, sendo que 86% recebem até cinco salários mínimos, por meio de aproximadamente 300 mil empresas cadastradas.

Isenção do imposto de importação: resultados incertos

Em março, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou a isenção do imposto de importação para nove produtos alimentícios, numa tentativa adicional de reduzir os preços. No entanto, conforme explicou Herlon Brandão, diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior, os efeitos dessa medida ainda não são perceptíveis, dado o baixo volume de importação dos produtos beneficiados e a entrada tardia da medida em vigor.

Brandão ponderou que os impactos podem ser mais bem observados nos dados do mês de abril, ainda em consolidação.

Com informações de Metrópoles

Artigo anteriorDia Nacional de Combate à Hipertensão alerta para riscos silenciosos da pressão alta
Próximo artigoChina nega negociações com EUA sobre tarifas enquanto avalia isenções para produtos essenciais