A família de Julieta Hernández, artista venezuelana estuprada e morta no município de Presidente Figueiredo no ano passado, apela que o caso seja julgado como feminicídio.
A segunda audiência de instrução do caso Julieta Hernández, artista venezuelana que foi morta durante passagem pelo interior do estado, no fim do ano passado, foi concluída no início da tarde desta terça-feira (3). Na ocasião, cinco testemunhas foram ouvidas presencialmente e uma nova sessão deve ser marcada para a continuidade dos trabalhos.
A família da vítima requer a reclassificação do crime. Em entrevista ao UOL, o advogado da família, Carlos Nicodemos, afirma que o intuito do requerimento é que o crime seja julgado como feminicídio, e não latrocínio, como está registrado.
“Deste modo, ele não será mais um número entre os roubos seguidos de morte no estado. Será julgado como feminicídio, e vai levantar questões de violência de gênero e xenofobia no Amazonas”, afirma Nicodemos.
MP do Amazonas registrou caso como latrocínio. A reportagem tentou contato com a promotoria, mas não obteve retorno até o momento da publicação.
Apelo a Lula
No sábado (30), a irmã de Julieta, Sofía Hernández, publicou um vídeo em suas redes sociais pedindo apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a instituições que defendem os direitos das mulheres.
“Nossa questão não é a maior pena, é a justa punição, com o contorno que o caso tem. É mais um caso de feminicídio e de xenofobia, da descriminação por ser uma mulher venezuelana. Ser tratado como roubo seguido de morte não descortina a bandeira de luta por turismo seguro para mulheres, descortina a questão de gênero e o preconceito contra venezuelanos no estado” – Carlos Nicodemos, advogado da família de Julieta Hernández.
Mudança de versão
O caso de Julieta foi registrado na 37ª Delegacia Interativa de Polícia de Presidente Figueiredo, e quem assumiu a investigação foi o delegado Valdnei Silva.
Estupro é principal hipótese. Em entrevista ao UOL, concedida em janeiro deste ano, ele diz que a principal linha de investigação é que a artista teria sido estuprada e teve seu corpo queimado.
Os acusados são Thiago Angles da Silva e Deliomara dos Anjos Santos. Os dois viviam na pousada em que Julieta se hospedou durante sua passagem pela cidade, que fica a 150 quilômetros de Manaus.
Em seu primeiro depoimento, Deliomara reforça a tese do estupro, que não pôde ser confirmado na necrópsia devido à composição do cadáver. Uma semana depois do primeiro depoimento, entretanto, a acusada mudou de versão: disse que ateou fogo no corpo de Julieta por tê-la visto sentada no colo de Thiago.
Família critica delegado do caso
Sem contato com a família. Nicodemos alega que o delegado não prestou esclarecimentos aos parentes de Julieta, que teriam ficado sabendo de detalhes do crime pelas entrevistas que Valdnei deu a veículos de imprensa. É esta também uma das queixas de Sofía, irmã da vítima.
Para a audiência do próximo dia 3, a juíza do caso vai ouvir o delegado e outras testemunhas. Nesse mesmo dia, ela já pode definir se o caso vai ou não a júri popular.
Ministério da Mulher apoia a reclassificação do crime
Ministério das Mulheres estará na audiência. A coordenadora de Prevenção à Violência contra Mulheres, Simone Souza, representará a pasta na no Tribunal.
Caso em sigilo. Ainda segundo o Ministério, a secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, Denise Motta Dau, e a ouvidora da pasta foram até o fórum na última audiência, mas não puderam participar por decisão da juíza, uma vez que o caso está sob sigilo.
Feminicídio Zero
Em setembro, durante agenda em Manaus, a ministra reforçou o apoio da pasta aos familiares da artista durante audiência pública na Assembleia Legislativa do Amazonas. A audiência marcou o lançamento da campanha “Feminicídio Zero – Nenhuma violência contra a mulher deve ser tolerada”, do governo federal.