Neymar, Bruna Biancardi e Mavie Foto: Divulgação

Na última terça-feira (10), Neymar reuniu dezenas de celebridades no Mercado Livre Arena Pacaembu, em São Paulo, para mais uma edição do leilão beneficente promovido pelo Instituto que leva seu nome. Recuperado da Covid-19, o jogador apareceu sorridente ao lado de Bruna Biancardi e da filha Mavie. O evento, como nos anos anteriores, arrecada fundos em prol de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.

Entre os muitos vídeos e fotos que circularam nas redes sociais, um detalhe chamou atenção de alguns: a ausência de Helena, outra filha de Neymar, fruto de outro relacionamento. Mavie esteve presente, no colo do pai. Helena, não.

“Era cedo, por volta das 7h da manhã desta quarta-feira (11), quando, no aeroporto, enquanto aguardava o embarque para o Rio, abri o celular e comecei a assistir vídeos do evento. Do nada, uma moça ao meu lado fez um comentário que me pegou desprevenido:

— E a outra pequenininha do Neymar? Não foi na festa, né?

Sem saber se ela me reconhecia como jornalista ou se era apenas uma observação espontânea, respondi algo simples:

— Acho que a Helena não foi mesmo. Mas também não é exatamente uma festa de família. É um evento beneficente.

Ela, então, rebateu com firmeza:

— Mas se uma filha foi, por que a outra não? Isso me incomoda. Não é a primeira vez. A filha com a Bruna vai ter fotos, lembranças, eventos com o pai famoso. A outra, não. Quando ela crescer, talvez o pai nem jogue mais bola. Elas não vão ter vínculo. A Mavie vai crescer com a irmãzinha que tá chegando. A Helena, não.

Fiquei em silêncio. A fala dela mexeu comigo.

É claro que não sabemos os bastidores. Talvez Neymar tenha convidado Helena. Talvez não fosse o momento. Pode ter havido questões logísticas ou familiares. Não cabe julgar. Mas a provocação foi legítima — e, talvez, necessária.

A previsão é que Mel, a quarta filha de Neymar, nasça já nesta sexta-feira (13). E, nesse entrelaçado de casas, relações e afetos, surge uma questão que vai além da celebridade: como equilibrar a criação de filhos em contextos familiares diferentes?

A psicologia e a neurociência mostram que os vínculos emocionais formados na infância são decisivos. Como diz o psiquiatra Daniel J. Siegel, autor de O Cérebro da Criança, o afeto, a presença e a empatia moldam a autoestima e a segurança emocional que carregamos por toda a vida.

E é aí que mora o perigo da ausência — mesmo que involuntária.

Muitos pais enfrentam o desafio silencioso de administrar filhos de relações diferentes, tentando equilibrar tempo, carinho e presença. Às vezes, é um jogo de logística. Outras, de diplomacia afetiva. Mas, quase sempre, é uma jornada difícil.

O que para um adulto pode parecer apenas um evento simbólico ou uma ausência pontual, para uma criança pode ser a origem de uma ferida que demora anos para se revelar. Como diz a psicóloga Ana Suy: “muito do que nos falta hoje vem daquilo que nos faltou lá atrás, sem que a gente sequer soubesse dar nome”.

Talvez a moça do aeroporto tenha falado com tanta força porque se viu — ou viu alguém próximo — naquele silêncio de ausência não explicada. Talvez tenha doído nela algo que não foi dito. Mas ela tinha razão numa coisa: ainda dá tempo.

Pouco depois, meu voo foi chamado. Levantei-me e, antes de seguir, olhei para ela e disse:

— Acho que a Helena ainda não percebeu isso. Mas você me fez pensar. O bom é que ainda dá tempo.

Ela sorriu, voltou ao celular. E eu segui refletindo: quantos leilões emocionais a gente atravessa ao longo da vida sem se dar conta de que estamos no meio deles?

Com informações de IstoÉ

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