O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira, 6, que o processo eleitoral na Venezuela não foi correto e, por isso, segue sem reconhecer os resultados, mas descartou romper relações e criticou as sanções econômicas contra Caracas.
“Eu me senti no direito de não reconhecer, porque não estava correto. Da mesma forma que eu também não reconheço o fato de que a oposição ganhou”, disse Lula em entrevista à rádio Difusora Goiânia, lembrando que exigiu apenas a divulgação dos dados de votação pelo Conselho Nacional Eleitoral, o que nunca aconteceu.
Ainda assim, ele descarta romper relações, como antecipou o Estadão no começo da semana. “Estamos numa posição em que Brasil e Colômbia não aceitaram o resultado das eleições, mas não vamos romper relações. Também não concordo com a punição unilateral, com o bloqueio, porque o bloqueio não prejudica o Maduro, prejudica o povo”, acrescentou mais adiante.
Questionado se a Venezuela é uma ditadura, democracia ou um rolo que não dá para definir, o presidente respondeu que seria um rolo. Ele voltou a insistir que a solução seria convocar novas eleições, embora a tese tenha sido descartada tanto pela ditadura de Nicolás Maduro, quanto pela oposição, liderada por Edmundo González e María Corina Machado.
“Maduro, como presidente, deveria fazer o seguinte: provar que é o preferido do povo e convocar uma nova eleição. Mas ele não faz”, afirmou. Os dois lados rejeitam a sugestão e afirmam ter vencido a eleição de 28 de julho. A diferença é que o chavismo nunca apresentou os dados das urnas enquanto os opositores divulgaram as cópias de 80% das atas, que comprovariam a vitória de González e, consequentemente, a fraude da ditadura.
Lula relembrou a relação de longa data que tem com o chavismo, desde que chegou à presidência pela primeira vez. E destacou a iniciativa do Grupo de Amigos da Venezuela, criado em 2003 para conter a crise que se arrastava após a tentativa frustrada de golpe contra o então presidente Hugo Chávez.
Aconteceu que Nicolás Maduro, sucessor de Chávez, aprofundou o autoritarismo do regime. Nestas eleições, inabilitou candidatos da oposição; restringiu a presença de observadores internacionais; declarou vitória sem apresentar provas; reprimiu os críticos, com a prisão em massa de manifestantes e as investigações contra María Corina Machado e Edmundo González, que agora estão na clandestinidade. Esse último, teve a prisão decretada pela Justiça, de viés chavista.
Depois do esforço para reabilitar Nicolás Maduro, o petista passou a criticá-lo pela escalada autoritária, mas sem chamá-lo de ditador. Focado em cobrar pelas atas que nunca apareceram, o Brasil adotou tom mais brando com a Venezuela que Estados Unidos, Europa e outras países da região, incluindo o Chile, sob governo do esquerdista Gabriel Boric.
Analistas ouvidos pelo Estadão logo após o pedido de prisão contra González disseram que o Brasil deveria ser mais firme com a Venezuela e condenar a repressão aos opositores. A nota emitida pelo governo em coordenação com a Colômbia, no entanto, apenas manifesta preocupação e alerta que a medida dificulta a busca por solução pacífica.
Com Lula, o Brasil buscou manter os canais de diálogo abertos com a Venezuela, revertendo a política de isolamento do governo Jair Bolsonaro. Apesar do esforço diplomático, a ditadura de Nicolás Maduro não sinaliza qualquer abertura de negociar uma transição pacífica de poder.
Com informações do ESTADÃO