
Após o sucesso da trend do Studio Ghibli — em que usuários transformavam fotos em animações utilizando inteligência artificial (IA) —, um novo tipo de conteúdo gerado por IA ganhou destaque nas redes sociais: os chamados “Brain Rot Memes” (ou “memes do apodrecimento cerebral”). Com vídeos absurdos e sem sentido, essas criações desafiam a lógica tradicional e acumulam milhões de visualizações nas plataformas de vídeos curtos.
O que é “Brain Rot”?
• Em 2024, o termo foi eleito “palavra do ano” pelo Dicionário de Oxford.
• Houve um aumento de 230% no uso da expressão entre 2023 e 2024.
• Refere-se ao desgaste mental causado pelo consumo excessivo de conteúdos digitais superficiais.
• É conhecido como “apodrecimento cerebral” ou “deterioração mental”.
Misturando animais com objetos aleatórios — como gatinhos humanizados, jacarés que se transformam em aeronaves ou tubarões usando tênis —, o conteúdo “Brain Rot” caiu no gosto da geração Z e domina redes como o TikTok.
Impacto psicológico do “Brain Rot”
A psicóloga clínica Juliana Gebrim explica que o consumo frequente desses vídeos gera uma espécie de transe nos internautas. Segundo ela, por serem bizarros e inesperados, os conteúdos viralizam com facilidade, mas alertam para um fenômeno real.
“O termo virou meme, mas reflete algo verdadeiro: o excesso de estímulos rápidos e superficiais pode tornar o cérebro menos paciente e mais dependente de recompensas instantâneas”, aponta Juliana. Ela ressalta que, embora o cérebro não “apodreça” de fato, a predominância desse tipo de estímulo pode comprometer a concentração, a paciência e a capacidade de reflexão profunda.
Além disso, Juliana alerta que o consumo contínuo desses conteúdos pode afetar a memória de trabalho — essencial para raciocínio, resolução de problemas e tomada de decisões —, tornando a mente mais dispersa e menos organizada.
Geração Z e o risco de exaustão digital
Pesquisas indicam que os efeitos da exposição constante a conteúdos fragmentados são ainda mais preocupantes para jovens. De acordo com o estudo Bem-estar 2022, da Betterfly, 60% dos profissionais da Geração Z — nascidos entre 1995 e 2010 — relataram sintomas de exaustão e burnout no ambiente de trabalho.
A psicóloga Denise Milk, especialista em saúde mental corporativa, aponta que a “infoxicação” — excesso de informações — é um dos principais fatores que impactam negativamente a saúde emocional dos jovens. “A superexposição impede o aprofundamento em temas relevantes, gerando desinteresse e promovendo relações mais superficiais”, afirma.
Monetização dos conteúdos e riscos a longo prazo
O TikTok, principal plataforma de disseminação dos memes “Brain Rot”, permite a monetização de vídeos publicados em sua rede, incentivando ainda mais a produção desse tipo de conteúdo por meio de inteligência artificial.
Juliana Gebrim destaca que, embora a busca por novidades e recompensas rápidas seja natural ao cérebro humano, a exposição prolongada pode reduzir a tolerância ao tédio e dificultar o envolvimento com atividades que exigem maior atenção, como leitura, estudo ou conversas aprofundadas.
“Nos jovens, cujo cérebro ainda está em formação, o impacto é ainda mais significativo”, adverte a psicóloga. “O consumo excessivo de estímulos rasos e acelerados pode afetar de forma duradoura a capacidade de foco, paciência e organização mental.”
Com informações de Metrópoles