
Mesmo com o consumo per capita de cerveja no Brasil atingindo níveis próximos aos de mercados maduros — entre 70 e 75 litros por ano — o novo CEO da Ambev, Carlos Lisboa, afirma que ainda há grande margem para crescimento. Segundo ele, o país não atingiu um platô, como defendem analistas, e o setor pode avançar tanto em volume quanto em ocasiões de consumo, especialmente por meio da educação do consumidor e expansão de portfólio.
“Essa visão de que o Brasil chegou no platô é muito míope”, disse Lisboa, em entrevista ao Brazil Journal. O executivo destaca que, enquanto em países como México e Colômbia há até três ocasiões semanais de consumo de cerveja, no Brasil essa média é de apenas duas. “Só aí temos potencial de crescer 50% em frequência”, aponta.
Potencial de expansão: refeições e novos hábitos
Lisboa destaca que, em países vizinhos, o consumo de cerveja nas refeições se consolidou após a pandemia, o que não ocorreu no Brasil. “Como líderes da categoria, temos a função de educar os brasileiros de que isso é possível”, afirma.
Ele defende que, embora o Brasil seja um dos maiores mercados consumidores do mundo, ainda há regiões subexploradas e comportamentos de consumo pouco desenvolvidos. Além disso, o crescimento de categorias como cervejas sem álcool — que hoje representam apenas 1% da indústria nacional, mas chegam a 9% em mercados desenvolvidos — revela oportunidades importantes. “Só no primeiro trimestre, esse segmento cresceu 40%”, pontua.
Inovação e margem: próximos passos da gestão
Com mais de 30 anos no grupo AB InBev, Lisboa retorna ao Brasil após comandar a operação da companhia em países como México, Colômbia e Caribe. Na nova fase, pretende recuperar margens — que já foram de 55% em 2013 e hoje estão em torno de 30% — ao mesmo tempo que expande a presença da empresa nas frentes digital e premium.
“Agora o portfólio já está mais completo e podemos voltar a fortalecer nossa produtividade. E músculo tem memória”, brinca o executivo. Ele destaca que a estratégia da Ambev se apoia em três pilares: desenvolver a categoria, transformar o ecossistema digital e ganhar produtividade. “Os três têm que caminhar juntos”.
Plataformas digitais e o futuro da Ambev
Para Lisboa, ferramentas como o Zé Delivery e o BEES ainda têm espaço para crescimento — tanto como canais de vendas quanto como fontes de eficiência operacional. “Só arranhamos a superfície do que essas plataformas podem fazer pelo nosso core business”, afirmou.
Além disso, o executivo confirma que a empresa lidera o segmento ‘above core’, ou seja, acima do mainstream, com marcas premium e super premium. “O que o consumidor busca ao subir de categoria são novas experiências, e temos um portfólio completo para isso”.
Distribuição de lucros e futuro dos negócios
Apesar da cobrança do mercado por maior distribuição de dividendos, Lisboa afirma que a Ambev tem investido consistentemente: foram R$ 15 bilhões nos últimos três anos só no Brasil, com foco em tecnologia, aumento da capacidade produtiva e experiência no ponto de venda. Ao mesmo tempo, a empresa tem adotado programas de recompra de ações e pagamentos mais frequentes de dividendos.
“Nosso compromisso é gerar valor tanto para nossos acionistas quanto para nossos colaboradores e clientes”, reforça.
Olhar além da cerveja
A Ambev também tem ampliado sua atuação por meio do marketplace do BEES, oferecendo produtos de terceiros nos pontos de venda. Questionado sobre a possibilidade de a empresa produzir itens fora do segmento de bebidas, Lisboa foi cauteloso. “Hoje já fazemos isso indiretamente com a plataforma. Encontramos uma forma de atender nossos clientes com eficiência, sem precisar produzir tudo.”
Com informações de Brazil Journal