Um dia, quando eu tinha nove para dez anos, a minha mãe me perguntou: “— O que você quer ser quando crescer?” Eu, mesmo sem saber exatamente o que eu queria ser — quem sabe nessa idade? — e o que aquela pergunta significava, lhe respondi: “— Quero ser escritor”. Minha mãe, surpresa, me perguntou, novamente: “— Que profissão é essa que eu nunca ouvi falar?” Eu, também surpreso, lhe respondi: “— Não sei”. Talvez ela esperasse que eu respondesse: “— Quero ser agricultor que nem a senhora e o papai”. Mas aquela palavra foi a primeira que veio à minha mente. Minha mãe, meio sem jeito e até contrariada, ainda me perguntou: “— Por que você quer ser escritor se você não sabe o que significa?” E diante do meu silêncio, ela concluiu dizendo: “— Filho, seja qual for a profissão que você venha exercer no futuro, seja feliz. Tudo o que fazemos na vida é para sermos felizes. Sem felicidade, a vida humana não tem sentido algum. Viver é ser feliz”.  

Hoje, se a minha mãe fosse viva — ela faleceu em 2018 — e me fizesse novamente aquela pergunta: “— O que você quer ser quando crescer?”, eu lhe responderia exatamente igual: “— Quero ser escritor”, apenas lhe explicaria os motivos: 1) Quero ser escritor para contar belas histórias; 2) Quero ser escritor para despertar bons sentimentos nos leitores; 3) Quero ser escritor para ser lido, debatido, comentado e criticado pelos meus leitores; 4) Por fim, quero ser escritor para ser feliz. Num país tão injusto como o nosso, que não costuma valorizar as artes e a cultura, ser escritor não é uma tarefa fácil. Pode-se dizer mesmo que é uma tarefa hercúlea. Infelizmente, na área da literatura, poucos são aqueles que conseguem viver exclusivamente do seu trabalho. A maioria têm a literatura como “hobby”, um “passa tempo”, e não é por falta de talento — temos muita gente boa nessa área — é por falta de apoio, de oportunidades. 

Atualmente me identifico como escritor. Sou contista. Também escrevo crônicas. Mas o conto é a minha especialidade, é o que me atrai, que me arranca o fôlego, me envolve, me prende. Já publiquei seis livros de contos: O primeiro olhar A filosofia em contos amazônicos (2010); O segundo olhar A filosofia em temas amazônicos (2012); O terceiro olhar A filosofia em lendas amazônicas (2014); O homem religioso A jornada do ser humano em busca de Deus (2016); Jesus e Ajuricaba na terra das Amazonas Histórias do universo amazônico (2019) e Filhos da Quarentena A esperança de viver novamente (Editora Viseu, 2021).  

Apesar de já ter publicado todos esses livros, ainda não vivo exclusivamente de minha escrita, sou professor! Costumo dizer que sou um escritor amador, sonhando um dia poder viver exclusivamente da venda dos meus livros. Sei que isso não é uma tarefa fácil, mas o que é fácil nessa vida? Ser escritor é ser um sonhador, uma pessoa que sonha sonhos impossíveis, um mundo mais justo, mais igual para todos, um observador atento da realidade. Ser escritor é transformar os sentimentos, os prazeres, as dores, as alegrias, as frustações, as derrotas, as vitórias, as mazelas do mundo, etc., em textos poéticos, contos, crônicas, reportagens, romances. Não é, obrigatoriamente, uma atividade ligada ao mundo da concorrência, mas ao mundo da criatividade, da imaginação, do pensamento, da reflexão. Por isso penso que trabalhando sério, estudando, lendo, escrevendo — como eu estou fazendo agora — um dia chegarei lá e viverei exclusivamente da minha obra, da minha escrita, dos meus textos, dos meus contos, dos meus livros, da minha literatura.  

Há dentro de mim — e não é vaidade — uma força, uma vontade muito grande de marcar positivamente à vida dos meus leitores, de transformar a vida deles, de fazê-los rir, de fazê-los pensar, refletir, enfim, de despertar neles os melhores sentimentos do mundo, da vida, sentimentos nobres, altruístas, sentimentos de liberdade, de esperança, de justiça, de amor, de perdão, de fraternidade, de respeito… Todos os dias eu penso naquele conselho que a minha mãe me deu, quando eu ainda era uma criança: “— Filho, seja qual for a profissão que você venha exercer no futuro, seja feliz. Tudo o que fazemos na vida é para sermos felizes. Sem felicidade, a vida humana não tem sentido algum. Viver é ser feliz”. Acredito que somente sendo escritor eu serei feliz.  

Como é bom pensar em cada texto que escrevo, em cada nova história que invento, descrever os cenários, os personagens, os dramas, as falas… Como é bom saber que alguém leu o meu texto e gostou, ou que não gostou; que sentiu os melhores sentimentos do mundo; que ajudou a superar os momentos difíceis da vida; que riu ou que chorou. Na época das redes sociais, tantos os elogios como as críticas são instantâneas. Todo escritor deve estar preparado para elas! Mesmo assim, como é bom ser reconhecido por aquilo que amamos, por aquilo que fazemos com gosto, carinho e esmero. E como eu ainda não sou reconhecido como escritor, vou continuou fazendo exatamente o que eu estou fazendo agora — escrevendo — para que um dia eu escreva a minha obra perfeita, a obra da minha vida, aquela obra que vai mudar o meu status de “escritor amador” para “escritor profissional”. 

Por fim, lendo os grandes literatos, os filósofos, aprendi que os escritores são sempre pessoas importantes para o mundo. Senão eles quem nos dariam belas histórias de amor como Romeu e Julieta, Capitu e Bentinho, Diadorim e Riobaldo, Fernando e Isaura? Os escritores são necessários como horizonte, para a construção de um mundo melhor. Viva todos os escritores do Mundo, do Brasil e do Amazonas, os clássicos, os amadores, os profissionais, os marginalizados. Viva aqueles que já publicaram alguma obra e aqueles que nunca publicaram um livro. E que nunca esqueçamos o que disse o premiado escritor português José Saramago: “Somos todos escritores, só que alguns publicam e outros não.”   

Luís Lemos é filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente, Editora Viseu, 2021.  

Escreva-se no meu canal, é grátis: https://m.youtube.com/channel/UC94twozt0uRyw9o63PUpJHg 

Artigo anteriorCejusc-Famílias retoma atividades da Oficina de Parentalidade de forma presencial
Próximo artigoEm reunião, 10 dos 13 vereadores de Parintins declaram apoio à reeleição de Wilson Lima