
Em entrevista recente ao Dinheiro Entrevista, o presidente da Kenvue Brasil, Ricardo Wolff, falou sobre os desafios de liderar uma multinacional no mercado brasileiro e as expectativas de crescimento da empresa, que detém marcas como Tylenol, Band-Aid e Listerine. Para ele, o Brasil continua sendo um território estratégico, mas complexo — especialmente para quem está fora do contexto local.
“Só quem trabalhou no Brasil entende 100% como as coisas funcionam. Tentar explicar a lógica de impostos, centros de distribuição e diferenças estaduais para colegas estrangeiros costuma dar nó na cabeça”, afirmou Wolff. Ainda assim, ele reforça que o país continua sendo uma das grandes apostas para multinacionais do setor de consumo.
A Kenvue, que surgiu a partir de um spin-off da divisão de consumo da Johnson & Johnson, tornou-se uma empresa independente em 2023, com a abertura de capital na Bolsa de Nova York (NYSE), movimentando US$ 3,8 bilhões no maior IPO daquele ano nos Estados Unidos. Atualmente, a empresa já opera com capital pulverizado, sem o controle acionário da antiga controladora, e registra receita global próxima a US$ 15 bilhões por ano.
Crescimento de dois dígitos no radar
Apesar das incertezas econômicas que marcam o início de 2025, a Kenvue tem metas ambiciosas para o Brasil. A expectativa, segundo Wolff, é crescer dois dígitos nos próximos dois anos, com ganho contínuo de participação de mercado.
“Atualmente, 77% do nosso portfólio está ganhando ou mantendo market share. Isso mostra que estamos no caminho certo, apesar de um começo de ano economicamente desafiador”, destacou o executivo.
Estratégia para tempos de bolso apertado
Wolff avalia que, mesmo atuando em categorias consideradas essenciais, como saúde e autocuidado, a empresa precisa se adaptar aos ciclos econômicos. Por isso, a estratégia inclui ofertas mais acessíveis para o consumidor brasileiro, especialmente em momentos de maior aperto financeiro.
“Nossas categorias são relevantes no dia a dia do brasileiro, o que nos dá certa resiliência. Mas isso não significa que podemos ignorar o poder de compra. É essencial oferecer alternativas acessíveis para manter o consumidor com a gente”, explicou.
Potencial brasileiro em autocuidado e higiene
O presidente da Kenvue também destacou o perfil único do consumidor brasileiro, que, segundo ele, tem hábitos de higiene mais rigorosos do que em muitos outros países — algo que impulsiona categorias como shampoos, sabonetes líquidos e produtos de higiene pessoal.
“O brasileiro se cuida. É um povo que toma muito banho, alguns até três por dia. Isso cria um mercado perfumado e com alto potencial para produtos de autocuidado”, comentou.
Complexidade do Brasil continua sendo barreira
Mesmo com o otimismo em relação ao crescimento, Wolff reconhece que o ambiente de negócios brasileiro ainda impõe desafios. A imprevisibilidade, as guinadas econômicas e o emaranhado tributário tornam o país um caso difícil de explicar para as matrizes internacionais.
“Às vezes, o mês fecha de um jeito completamente diferente do previsto. A gente sofre com isso, mas também aprende a lidar, a ganhar casca e a explicar da melhor forma possível”, concluiu.
Com informações de IstoÉ