
Ao completar um ano à frente da Petrobras neste sábado (24), a engenheira Magda Chambriard reafirmou que a sustentabilidade da companhia está diretamente ligada à continuidade da exploração de petróleo — com destaque para a Margem Equatorial, localizada entre o Pará e o Amapá. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Chambriard declarou: “Não há futuro para uma petroleira sem atividades de exploração”.
A executiva garantiu que a empresa está tecnicamente preparada para iniciar perfurações na região, contando com um plano de emergência considerado o mais abrangente já desenvolvido para operações em águas profundas e ultraprofundas. “Estamos propondo o maior plano individual de emergência da história para esse tipo de ambiente”, destacou. A liberação ambiental, segundo ela, depende apenas de etapas técnicas conduzidas pelo Ibama, mas a perspectiva é positiva.
Chambriard reforçou que a Petrobras vem cumprindo rigorosamente todos os requisitos regulatórios para a obtenção da licença. “Se a maior companhia do Brasil não consegue cumprir as exigências, quem conseguirá?”, indagou.
Desinformação e equívocos sobre a localização dos poços
Um dos pontos mais sensíveis do debate, segundo a presidente, é a confusão causada pelo nome “Foz do Amazonas”, que leva muitos a acreditarem que os poços estarão localizados próximos ao curso do rio ou dentro da floresta. Ela rebateu essa ideia: “Não vamos perfurar na Amazônia. A área prevista está a 540 quilômetros da ilha do Marajó”.
Chambriard comparou a distância com a do pré-sal em relação à costa fluminense e lembrou da competência técnica da empresa em perfurações em alto-mar. “Se confiamos na Petrobras para operar em frente a Angra dos Reis, por que duvidar de sua capacidade no litoral do Amapá?”, argumentou.
Equilíbrio entre petróleo e transição energética
Durante uma apresentação nos Estados Unidos, Chambriard usou a expressão “let’s drill, baby” — frase associada ao ex-presidente norte-americano Donald Trump — e recebeu críticas de ambientalistas. Ela esclareceu que o contexto foi o de estimular o desenvolvimento regional e a geração de oportunidades no Amapá. “Olhei para o governador e disse: ‘Temos a responsabilidade de explorar o potencial do estado e do Brasil’.”
Ela também foi questionada sobre a exploração petrolífera em meio aos preparativos para a COP30, que será sediada no Brasil. Em resposta, destacou o protagonismo brasileiro na matriz energética renovável: “Enquanto o mundo mira 39% de fontes limpas até 2050, nós já temos 53% e queremos atingir 64%”.
A presidente ressaltou ainda que o plano estratégico da Petrobras ampliou os recursos voltados à energia limpa, passando de 11% para 15%, com foco em biocombustíveis como etanol, biodiesel e diesel verde.
Estratégia para reservas e projeção internacional
Chambriard revelou que estão previstos oito novos poços na bacia da Margem Equatorial — um inicial e sete com licença compartilhada — com o objetivo de recompor reservas e fortalecer a balança comercial brasileira. “O petróleo é nosso principal produto de exportação. Só em 2024, pagamos R$ 270 bilhões em tributos. Precisamos explorar mais”, defendeu.
Ela também sinalizou interesse na expansão internacional da estatal, com foco na margem atlântica da África, onde a Petrobras pretende usar sua expertise em águas profundas.
Ativos, Braskem e foco no lucro
Sobre a Braskem, a executiva descartou qualquer movimento de estatização, mas confirmou o interesse estratégico na empresa. “Queremos uma Braskem sólida e lucrativa. Vamos apoiar porque temos responsabilidade como sócios”, explicou.
Em relação ao Polo Bahia, informou que a venda está mantida, mas condicionada à viabilidade financeira. Já sobre a refinaria de Mataripe, negou qualquer intenção de recompra no momento: “Só vale a pena investir em negócios rentáveis e com sinergia”, concluiu.