A paulista Camila Ferreira Batista, 33 anos, analista de legislação ambiental, conviveu com os efeitos graves da dermatite atópica até quatro anos atrás, quando conseguiu controlar a doença com uma terapia inovadora que havia chegado recentemente ao Brasil. “Foi um divisor de águas na minha vida. Eu já estava considerando que teria que permanecer para sempre com aquele quadro, que afetava profundamente a minha qualidade de vida”, ela lembra.
Camila convivia com lesões na pele, espalhadas por todo o corpo, incluindo o rosto. “Eram feridas que soltavam líquidos e sangravam”, descreve. Além de sentir vergonha pela aparência e perceber olhares de desconfiança – embora a dermatite atópica não seja contagiosa –, ela enfrentava dores e dificuldade para tomar banho e dormir.
Os sintomas, leves na infância, ganharam força a partir dos 19 anos. “Eu não conseguia ter uma vida normal, e isso fez com que eu me fechasse, sem vontade de interagir com outras pessoas, como ocorre frequentemente nas pessoas com dermatite atópica.” Camila recorria o tempo todo aos medicamentos baseados em corticoide, que eram apenas paliativos e provocavam efeitos colaterais, como estrias, insônia e oscilação de humor, além de riscos mais graves relacionados ao uso prolongado.
Há opções terapêuticas que atuam para inibir o início da crise, em vez de combater o processo já deflagrado, como fazem os corticoides. Camila ressalta que a melhora se deu desde o início do tratamento. “Consegui ter uma boa noite de sono depois de muito tempo”, recorda. Com a continuidade do processo, os sintomas desapareceram e as feridas se fecharam.
Vigilância permanente
A evolução das pesquisas associou a dermatite atópica a um processo mais amplo do organismo, a Inflamação Tipo 2, caracterizado pela ativação exagerada do sistema imunológico contra agressões leves. “É um quadro em que o corpo reage excessivamente a situações do cotidiano, a exemplo do contato com poeira ou ácaros, como se estivesse sendo atacado por parasitas”, explica Ana Paula Resque, diretora médica do laboratório Sanofi.
A dermatite atópica costuma ser a manifestação inicial mais comum da chamada “marcha atópica”, termo que diz respeito à ocorrência sucessiva de doenças alérgicas que podem acometer uma pessoa ao longo da vida. Outras das doenças mais comuns na marcha atópica são rinite e asma.
O público mais atingido pela dermatite atópica é o infantil. Estima-se que a doença se manifeste, com diferentes níveis de intensidade, em aproximadamente 25% da população pediátrica, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), sendo que 60% desses casos surgem já no primeiro ano de vida. Em boa parte dessas ocorrências, os sintomas são reduzidos ou desaparecem a partir da adolescência.
Conviver com a dermatite atópica é um desafio ainda maior para as crianças, considerando-se a falta de maturidade em relação aos sintomas. “Nos casos mais graves, toda a família é impactada, com um quadro de exaustão que frequentemente leva à desestruturação das relações, incluindo divórcios”, conta a dermatologista Flávia Ravelli, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Estado de São Paulo e responsável pelo laboratório de dermatite atópica da Universidade Santo Amaro (Unisa).
Mesmo em casos não tão graves, a rotina de cuidados com a pele é exaustiva e demanda investimentos em hidratantes de boa qualidade. “Tenho que estar vigilante o tempo todo. Agora ele já está maiorzinho, mas antes não era fácil evitar que se coçasse durante as crises”, conta a personal organizer Marilene Ferreira Trama, referindo-se ao filho Enzo, 9 anos. Os cuidados rotineiros incluem banhos não tão quentes, com uso de sabonetes líquidos especiais, além de evitar roupas com tecidos sintéticos. “Quando os sintomas se agravam um pouco, é inevitável recorrer às pomadas”, conta a mãe.
Com informações do ESTADÃO