O doutor Augusto Aras e a doutora Lindora Araújo receberam o relatório da CPI da covid e não lhe deram a mínima. Simplesmente requereram ao Supremo o arquivamento de todos os itens em que se vislumbrava a prática de atos ilícitos pelo presidente da República e alguns de seus ministros. No que diz respeito ao menosprezo pela vacina e ao endeusamento da cloroquina, chega a ser comovente a “ingenuidade” das duas ilustres figuras. Não há que investigar Bolsonaro – dizem eles – porque era legítima e sincera a crença de que o último dos medicamentos citados tinha eficácia para o enfrentamento da pandemia. Que fosse! O importante, no caso, é que por força do posicionamento presidencial a aquisição e a aplicação de vacinas sofreram atraso monumental, o que, quando nada, se refletiu no número avultado de quase setecentos mil mortos em todo o país. Se isso não foi crime, o que haveria de sê-lo na concepção da Procuradoria Geral?

Difícil dizer. Titular da ação penal, sabedor de que só a ele a ordem jurídica concede o poder de oferecer denúncia criminal contra o presidente, o doutor Aras se vale desse privilégio para atuar não como um servidor público qualificado, mas sim como um menino de recados do ocupante do palácio do Planalto. Vergonhoso. Vergonhoso e lamentável, na medida em que, tendo certeza de que jamais sofrerá os incômodos de uma persecução criminal, Bolsonaro usa e abusa, difundindo uma política de ódio e de discriminação, em que crimes de diversas modalidades se mesclam com o ranço da intolerância política.

Dei-me à pachorra de ouvir parte do discurso pronunciado pelo Bozo na convenção que o lançou candidato. É certo que, antes, deliciei-me com a performance da primeira dama, a qual, com ares de quem está prestes a entrar em estado de graça, sublimou a conduta do marido, vendo nele uma figura quase celestial. Quanta idiotice! Bolsonaro, ele próprio, não mostrou nenhuma novidade. Deu vazão, de novo, ao seu ódio pelo Supremo Tribunal Federal, concentrando esse sentimento especificamente no ministro Alexandre de Morais. E convocou seus seguidores para irem à rua no 7 de setembro. Frisou: “vamos à rua pela última vez”. Por que será a última, não explicou, mas deixou implícito que se tratará de nova tentativa de golpe, idêntica à que foi ensaiada na mesma data do ano passado e que terminou em simples patacoada.

Cá comigo, tenho minha interpretação pessoal: no 7 de setembro estaremos a menos de trinta dias das eleições e o Bozo sabe que, fatalmente, será banido do poder no dia 2 de outubro, de sorte que a comemoração da independência se mostra como sua derradeira oportunidade de levar adiante a política de arrogância, maldade e ódio que o tem caracterizado. Se ele quer repetir a palhaçada de 2021, deixemo-lo à vontade. É apenas mais um delírio de megalomaníaco.

Dá pena ver os seguidores de Bozo se autorrotularem proprietários do patriotismo, assim como se só eles respeitassem os símbolos nacionais. Muito ao contrário, enodoam o pavilhão verde e amarelo quando o erguem para endossar a política neoliberal entreguista que Paulo Guedes impôs ao país. Por conta dela, o resultado está aí na cara de todos, para quem tiver olhos, ver: uma inflação que atinge os dois dígitos e os preços dos gêneros alimentícios com altas estratosféricas.

Definitivamente, não dá mais para aguentar. Golpismos, arrogância, maldades, corrupção devem ser jogados para o lixo da história. A oportunidade para isso são as eleições de 2 outubro. Aproveitemo-la.

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