Cristina Kirchner e Lula, 9 de dezembro de 2016 em São Paulo Foto: AFP

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, em prisão domiciliar, tem gerado grande repercussão na cúpula do Mercosul realizada nesta quinta-feira (3), em Buenos Aires. Kirchner, que cumpre pena por condenação a seis anos de prisão e inelegibilidade política permanente, lidera o Partido Justicialista e é considerada a principal opositora ao atual presidente argentino, Javier Milei.

Autorizada judicialmente para ocorrer no mesmo dia do encontro presidencial, a visita de Lula à ex-mandatária está programada para a parte da tarde, segundo informaram representantes do governo brasileiro. A decisão pode intensificar o clima já delicado entre os chefes de Estado de Brasil e Argentina, que têm evitado contatos diretos desde que Milei assumiu o poder, em dezembro de 2023.

Cúpula marcada por divergências ideológicas

Apesar de ambos os líderes participarem de fóruns multilaterais recentemente — como a Conferência dos Oceanos, em Nice, e a cúpula do G20 no Rio de Janeiro — encontros bilaterais entre eles não foram realizados. Na cúpula desta quinta-feira, Lula não tem agenda oficial com Milei, mesmo com a transferência da presidência rotativa do Mercosul para o Brasil.

A relação entre os dois é marcada por choques ideológicos. Milei, autodeclarado liberal radical, já classificou Lula como “corrupto”, enquanto o presidente brasileiro minimizou as declarações, chamando-as de “bobagens”.

Apesar das divergências políticas, os laços econômicos entre os países seguem ativos. O bloco sul-americano concluiu nesta semana um acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), composta por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, o que deve impulsionar o comércio entre as regiões.

Integração energética e apoio regional

Durante o encontro, foi assinado ainda um memorando de entendimento para integração regional no setor de gás. O ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, que participou das reuniões preparatórias, destacou o ambiente cooperativo entre os representantes dos países, expressando surpresa com o tom amistoso das discussões econômicas.

A cúpula também deve reafirmar o compromisso com o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, firmado no final de 2024, após mais de duas décadas de negociações. No entanto, o pacto ainda precisa ser ratificado pelos parlamentos europeus e enfrenta resistência por parte da França.

Outro ponto do consenso do bloco foi o apoio unânime à reivindicação da Argentina sobre a soberania das Ilhas Malvinas, em disputa com o Reino Unido.

Participam da reunião os presidentes Javier Milei (Argentina), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Santiago Peña (Paraguai), Yamandú Orsi (Uruguai) e Luis Arce (Bolívia). O Panamá também marca presença como Estado associado, representado pelo presidente José Raúl Mulino.

Kirchner recebe Lula sob condições restritas

Cristina Kirchner, de 72 anos, teve autorização especial para receber Lula em sua residência, onde cumpre prisão domiciliar em Buenos Aires. A permissão judicial impõe restrições à visita, como a necessidade de manter a ordem pública e evitar tumultos, especialmente considerando a popularidade de ambos os líderes e o histórico de manifestações de apoiadores em frente ao local.

A ex-presidente costuma saudar manifestantes da sacada de seu apartamento, o que tem transformado a região em um ponto de aglomeração frequente.

Com informações de IstoÉ

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