Eu conheço um montão de gente que vive dizendo sim para tudo e para todos. São pessoas que não sabem dizer não. São pais de família, professores, empresários, artistas, profissionais liberais, autônomos, e uma infinidade de pessoas. Infelizmente, a grande maioria dessas pessoas vivem atarefadas, estressadas e não são felizes! 

Por que não conseguimos dizer não? Por que é tão difícil dizer não, principalmente para as pessoas que amamos? Que ciência é essa que nos impedem de dizer não? Você acha importante dizer não? Você sabe dizer não? Não é fácil dizer não. Outrossim, é necessário.  

Nesse sentido, é terrível observar pais que não sabem dizer não para os seus filhos. Muitos pais pensam que dizendo sempre sim para os vossos filhos estão educando, formando para a vida. Mas não. Ao contrário, estudos apontam que crianças que nunca receberam um não na vida são mais propensas ao fracasso na vida adulta.  

Quem só sabe dizer sim quase nunca têm tempo para si mesmo e acaba esquecendo de aproveitar a vida, de viver momentos importantes, ao lado daqueles que realmente nos amam: os nossos familiares. Dizer sim para tudo não é a saída. É preciso aprender a dizer não! É preciso ensinar as crianças, os adolescentes, os jovens, os idosos, os trabalhadores, as donas de casa, os empregados… a dizer não. É urgente a pedagogia do não!  

Nenhum ser humano pode dizer sim para tudo e achar que está tudo bem. Muitas vezes um não torna-se mais educativo do que um sim. Dizer sempre sim para tudo pode ser sinal de fraqueza, de falta de personalidade. 

Durante a pandemia, dediquei várias horas do meu dia para atender e ajudar os meus alunos que estavam passando por alguma dificuldade, algum problema. Foram horas, dias, noites, semanas, meses… de escuta.  

Eram alunos que relatavam sentimentos, problemas de todos os tipos. Poucos, ou quase nunca, eles queriam falar sobre a tarefa escolar, sobre o assunto da aula ministrada. Muitos deles só queriam conversar, desabafar.  

Eles me relatavam que não conseguiam superar as próprias dificuldades porque sentiam-se sufocados. Relataram-me, ainda, dificuldades e sentimentos que lhes tiravam as forças e a vontade de viver.  

Frequentemente eles me relatavam problemas econômicos, amorosos, políticos, sociais. Ao longo desse trabalho, achei-os tão cheios de angústias, tristes, que não cabiam mais dentro de si, nem mesmo um bom conselho. 

Aos poucos fui percebendo que os meus alunos e muitos dos pais dos meus alunos, que eu também passei a ouvi-los e ajudá-los durante a pandemia, só precisavam se esvaziar, desabafar, jogar conversa fora, de alguém para escutá-los. 

Nesse período, eu aprendi que quem sofre precisa expor seus sentimentos. Muitas pessoas têm uma necessidade tremenda de revelar o que sente a seu companheiro, a seu amigo, a sua família, mas não sabem como. Não encontram espaço e nem pessoas dispostas a escutá-los. 

As escolas precisam ser espaços de acolhimento, de partilha. Mas como fazer isso se nas escolas não há espaço e nem profissionais preparados (psicólogos) para tal missão? Se os professores têm carga horária fixa e extenso conteúdo programático a ser ministrados? Como agir nesse caso? O que fazer? Como fazer? 

Quando as aulas presenciais retornaram, compartilhei essa minha experiência com um gestor. E você sabe o que ele me disse? Disse-me que eu poderia continuar com o projeto, agora atendendo os alunos presencialmente na escola onde ele era gestor, que eu teria todo o apoio da comunidade escolar. Fiquei superfeliz com a promessa. “Agora teria a chance de colocar em prática aquilo que vinha acontecendo apenas virtualmente”, pensei. 

No meio da nossa conversa, ele me disse que à contrapartida seria “chamar os pais para participar do projeto”. E num arroubo autoritário, sem combinar previamente comigo e com os meus alunos, confirmou que faria uma “festa de abertura do projeto” e que a presença do secretário de educação do estado e do município já estavam confirmados, juntamente com a mídia eletrônica (rádio, televisão e internet) e impressos (jornais e revistas), ou seja, o circo já estava armado. 

Por fim, você sabe qual foi a minha resposta? Não? Eu lhe respondi que não, não e não. Foi o não mais libertador da minha vida. O que aconteceu comigo? Fui transferido para outra escola e levei comigo a minha liberdade e a consciência tranquila. Foi a partir desse dia que eu descobri o poder do não. E você sabe dizer não? Hoje, para qual situação ou para quem você quer dizer não? Você acha importante dizer não? Vamos refletir sobre isto?  

Luís Lemos é filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente, Editora Viseu, 2021.  

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