ESTADÃO – O agravamento da tensão entre as tropas do governo sírio e os rebeldes que lutam contra a ditadura de Bashar al-Assad levou pelo menos 800 mil pessoas a deixarem a província de Idlib, no noroeste do país, desde o início de dezembro. Com o avanço das tropas sírias, aliadas do russo Vladimir Putin, milhares de cidadãos estão fugindo dos conflitos indo para o norte do país, região considerada mais segura. 

A região de Idlib, considerada um dos últimos redutos da resistência contra Assad, tem cerca de três milhões de habitantes e enfrenta temperaturas próximas de zero, com neves e chuvas nos últimos dias. Os moradores têm fugido como podem e colocam tudo o que têm em carros, caminhões e ônibus. A ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos, com base no Reino Unido e observadores na Síria, estima que apenas na semana passada foram mais de 100 mil deslocamentos.

Das mais de 800 mil pessoas que deixaram a região desde 1º de dezembro, a maioria mudou-se para locais que já estavam densamente povoados por refugiados que abandonaram suas casas em conflitos anteriores. A ONU avalia que a necessidade mais urgente é de abrigos, já que milhares de pessoas vão para áreas que não têm capacidade de receber tanta gente.

“Dado o alto número de pessoas que fugiram de suas casas nos últimos dois meses e a rapidez do movimento da população, as necessidades humanitárias no noroeste da Síria estão aumentando exponencialmente. Abrigos, itens não-alimentícios, assistência alimentar e de proteção continuam sendo as necessidades mais prementes – com 93% dos recém-deslocados identificando os abrigos como uma das principais necessidades”, diz um relatório da instituição.

‘Fora de controle’

O porta-voz do Escritório da Organização das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) na Síria, David Swanson, afirmou que a situação está “fora de controle”. Entre os civis, mais de 80% são mulheres e crianças. Em nove meses de ofensiva, mais de 1.500 civis foram mortos na região – número que deve aumentar se a situação se mantiver assim, avalia Swanson. 

O regime de Bashar al-Assad acusa os turcos de manterem tropas no noroeste do território sírio e de darem suporte aos grupos opositores, o que vem elevando a tensão entre os vizinhos. Na semana passada, pelo menos 55 soldados do exército sírio foram mortos nos últimos ataques da Turquia na província de Idlib. A ação foi uma resposta aos atentados que causaram 14 baixas entre as tropas turcas posicionadas na área.

Idlib está localizada perto da fronteira turca e Ancara teme que a ofensiva do regime sírio cause um novo fluxo de refugiados para a Turquia, que já abriga 3,7 milhões de sírios. As tensões em Idlib também prejudicam a relação entre Rússia e Turquia. Apesar de seus interesses conflitantes na Síria, ambas têm fortalecido a cooperação bilateral desde 2016.

Damasco e Moscou afirmam combater “terroristas”, mas o presidente turco, Recep Erdogan, os acusa de atacarem “principalmente civis”, a fim de empurrar as populações para a fronteira turca.

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