Departamento de Estado americano afirma não ter intenção de reduzir contingentes no flanco oriental da Otan, a fim de dispersar tensões com Rússia. Ucrânia e Cazaquistão são fontes de desavenças entre as duas potências.Os Estados Unidos desmentiram neste sábado (08/01) notícias de que estariam se preparando para reduzir seus contingentes militares no Leste Europeu, no contexto das conversas com a Rússia sobre a Ucrânia, programadas para a segunda semana de janeiro.
Citando diversas fontes, a emissora NBC News noticiara na véspera que Washington estaria disposto a discutir uma redução de suas tropas na região, enquanto a Rússia se retiraria da fronteira da Ucrânia e de outros territórios.
“Na verdade, temos sido claros com a Rússia, em público e privadamente, que, caso ela continue a invadir a Ucrânia, daríamos reforço a nossos parceiros da Otan no flanco oriental, com os quais temos uma obrigação sagrada enquanto aliados”, escreveu no Twitter o porta-voz do Departamento de Estado Ned Price.
Neste sábado, sob condição de anonimato, um alto funcionário do governo americano contou a repórteres, durante uma coletiva organizada pela Casa Branca, que os EUA estariam dispostos a discutir certos tópicos: as mobilizações de mísseis na Ucrânia e os limites dos treinamentos militares no Leste da Europa estariam abertos ao debate.
No entanto, prosseguiu, os acertos dependeriam da disposição russa de deixar de usar suas forças armadas para ameaçar a Ucrânia. Além disso, não se faria nenhum acordo sem envolver na discussão Kiev e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Os americanos, porém, não pretenderiam negociar o tamanho de suas tropas nem o volume de equipamentos no flanco oriental da Otan, explicou a fonte governamental anônima.
“Como a raposa se queixando das galinhas”
Nos últimos meses, a Rússia posicionou mais de 100 mil soldados próximo à fronteira com a Ucrânia, provocando apreensões no Ocidente. Em dezembro, apresentou aos EUA uma série de reclamações e exigências como condição para restabelecer relações. A lista incluía o fim dos postos militares da Otan no flanco oriental e o fim da expansão da aliança transatlântica na região.
Em caráter informal, a Otan rejeitou essas exigências, afirmando que os russos não teriam poder de veto sobre as filiações à organização nem ditariam suas operações. Nesta sexta-feira, o secretário de Estado Antony Blinken acusou o país de “distorcer os fatos” e de “promover uma narrativa falsa” de que estaria ameaçado pela Ucrânia e a Otan, a fim de justificar o reforço às próprias tropas.
“É como a raposa dizer que teve que atacar o galinheiro porque seus ocupantes apresentavam algum tipo de ameaça. Nunca vimos uma distorção dos fatos dessa ordem, antes”, comentou, referindo-se à ocupação da península ucraniana da Crimeia, em 2014, e ao apoio do governo de Vladimir Putin aos separatistas da região de Donbass. Mesmo assim, ressalvou, uma solução diplomática ainda é possível e preferível.
A Ucrânia estará no alto da agenda de diversos encontros diplomáticos na próxima semana. Na segunda-feira, a vice-secretária de Estado americana, Wendy Sherman, tem reunião marcada em Genebra com seu homólogo russo, Sergei Ryabkov. Há esperanças de que os dois diplomatas veteranos sejam capazes de ajudar a dispersar as tensões acumuladas há meses.
Na quarta-feira seguinte, o Conselho da Otan para a Rùssia se encontrará em Bruxelas, pela primeira vez desde 2019. Segue-se uma conferência da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em Viena, presidida pela Polônia.










