Com o que sobrou da casa para onde havia se mudado ao fundo, Giovanna contou como, na terça-feira anterior teve a esperança de dias melhores devastada pela tempestade. No dia do temporal, ela e Rafael, de 30 anos, chegaram na casa do sogros por volta das 6h.
“A gente acabou de perder o nosso filho, há duas semanas, e ele morreu por Covid… Teve quatro paradas cardíacas e, como a gente estava traumatizado, a gente veio aqui pra tentar se reerguer. Só deu tempo, mais ou menos, de a gente comer, tomar banho, e na hora que a gente ia deitar para descansar da viagem de São Paulo até aqui, começou uma chuva muito forte”, disse a jovem.
No dia 15, a chuva chegou de tarde. Uma casa ao lado à dos sogros dela seria a primeira a desabar. Depois, todos decidiram que precisavam sair dali. O local onde ficava a casa é próximo a uma pequena cascata, um lugar aparentemente calmo, contrastando com o cenário de destruição na vila.
“Foi um barulho muito específico. A chuva estava forte, a lama já estava começando a vir. Só que até então, ninguém estava se tocando, pelo nervosismo. E as sirenes não estavam tocando no momento. Pararam de tocar assim que a primeira casa caiu. Os bombeiros chegaram aqui, mais ou menos, dez e meia da noite – e a gente já tinha tirado mais de cinquenta pessoas do soterramento”, lembrou.
Ela mesmo contou ter sido arrastada pela enxurrada, mas conseguiu sair “só” com uma costela quebrada. A sogra não teve a mesma sorte e precisou ser socorrida para um hospital com mais ossos quebrados.
Na segunda seguinte à tragédia, Giovanna, Rafael e um amigo deles voltaram ao local para tentar recuperar alguns pertences. Entre eles, exames e o atestado de óbito do bebê.
Até aquela segunda, a jovem e o marido estavam num dos abrigos improvisados na cidade. Traumatizada, ela disse que qualquer barulho a tem deixado assustada.
“Qualquer barulho, um garfo caindo no chão, qualquer coisa, eu já acho que vai desabar outra barreira, que vai acontecer outra coisa”, desabafou.