Em 2018, 29,9 milhões de pessoas não foram às urnas votar. O movimento de abstenção no pleito que tinha como principais candidatos Fernando Haddad (PT) e o vencedor Jair Bolsonaro (PL) foi tão forte que chegou a 20,33% do eleitorado na primeira etapa da votação e só perdeu para o que ocorreu nas eleições de 1998, quando 21,5% dos eleitores brasileiros se abstiveram da disputa que elegeu Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em primeiro turno.
Em 2022, as campanhas para o voto de jovens e de estímulo à participação nas eleições aumentou. Na balança, não é possível saber qual será o peso de um maior comparecimento do eleitor.
Embora a campanha do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acredite que a redução da abstenção possa beneficiá-lo, o segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro, também tem interesse na mudança de comportamento.
No Brasil, pelos dados das últimas eleições, pessoas com escolaridade baixa, até o ensino fundamental e de menor renda vão menos às urnas. A inversão desse comportamento beneficiaria Lula pelo perfil de seu eleitor.
No entanto, historicamente, mulheres votam mais do que homens. Ou seja: uma maior participação do público masculino beneficiaria Bolsonaro – uma vez que o presidente tem melhor desempenho nessa fatia do eleitorado.
Causas
“A abstenção é um fenômeno complexo. Não é só desinteresse político que a provoca. Outras questões são determinantes. As pessoas mais pobres às vezes não têm como pagar uma passagem de transporte público até os locais de votação. Preferem pagar a multa de R$ 3,50, mais barata que a passagem no RJ ou SP, por exemplo. Do mesmo jeito, temos os mais idosos que não são obrigados a votar a partir dos 70 anos. E, por fim, as pessoas que estão desacreditadas”, analisa o professor de Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), Volgane Carvalho.
Para ele, mesmo com o dado flutuante ao longo dos períodos eleitorais, em 2022 uma parcela da população pesa mais para um lado e outra para determinado candidato. Assim, a depender do movimento, pode beneficiar ou “zerar” o jogo. “Se os eleitores mais pobres faltam o mesmo tanto que idosos, por exemplo, zera o jogo”, ponderou o especialista.
Abstenção
O menor nível de abstenção histórico do país ocorreu na redemocratização, em 1989, quando 11,93% do eleitorado não votou. Depois disso, os índices aumentaram até chegar ao ápice, em 1998, com o recorde histórico de 21,5%.
Após a saída de Fernando Henrique Cardoso da Presidência e a eleição de Lula, em 2002, os índices começaram a cair. Foram três eleições com percentuais abaixo de 20% até que 2018 voltou a contabilizar índices parecidos com 1998.
A abstenção é diferente dos votos brancos e nulos. É o ato de não ir às urnas. O eleitor se nega a fazer opções políticas. No voto branco ou nulo, a pessoa vai às urnas e prefere não escolher um nome específico.