O projeto “Vozes da Educação de Manaus” nasceu com o objetivo de contar\escrever as histórias de vida dos profissionais da educação de Manaus, do Amazonas, do Brasil, guiçá, do mundo. Isso porque acreditamos que uma bela história de vida provoca e revive nossos sentimentos, inspira, desperta sonhos. É a arte de produzir estímulos que nos levam ao que realmente somos, sentimos e queremos ser. Toda história de vida nos conecta com a nossa essência, com o outro e com o mundo. Dessa forma, o projeto acontece sempre no mês de outubro como forma de homenagem ao Dia do Professor. Sendo assim, durante o mês de outubro, publicaremos, aqui, nesse espaço, entrevistas com renomados profissionais da educação. E para começar essa série de entrevistas, abrimos espaço para conhecer a história de vida do professor José Carlos Fernandes Izel, “amazonense e manauara”, como ele mesmo se define.
Comecemos pela origem de tudo. Conte-nos quem é você. Sou filho de pai funcionário público e mãe doméstica. Somos cinco irmãos, que estudaram apenas em escolas públicas. Terminei o ensino médio na escola Estelita Tapajós, com 19 anos, já casado e pai de um filho. Com 22 anos e trabalhando no Distrito Industrial, consegui passar no vestibular para o curso de Licenciatura em História na UA. A maior dificuldade era conciliar o curso no turno matutino com o trabalho. Foram anos, em que trancava matrícula, ou pagava apenas algumas disciplinas, mais em 2002, consegui colar grau. Em 2012, conclui a especialização em Gestão Escolar.
Quando você começou na educação? O que você mais lembra dessa época? Em 1990, iniciei minha vida no magistério trabalhando como professor do ensino fundamental na escola Machado de Assis, que por sinal cursei a maior parte da minha vida de educando. Tive a oportunidade, ainda, acadêmico de trabalhar em uma instituição privada de grande porte aqui em Manaus na década de 1990, também lecionei em muitos colégios estaduais.
De lá para cá, qual é a maior mudança que você percebe na educação? Poderia explicar, brevemente! A educação era objetiva, onde o aluno primava pelo respeito ao professor e a família não via a escola como repositório de seus filhos. Apesar de pouca tecnologia, a educação era mais incisiva e voltada para a qualidade e não quantidade. O aluno era uma pessoa e não um número, o professor nunca ganhou bem, mais tinha o respeito da sociedade. O maior problema da educação atualmente é que a tecnologia, infelizmente, ainda não chegou de fato as escolas. Hoje temos escolas com suas estrutura físicas deterioradas, sem equipar alunos e professores com essas ferramentas, e também melhorar a qualidade de vida do profissional da educação, melhores condições de trabalho, melhores salários e de uma jornada de trabalho menor.
Você se considera um professor realizado? Sim. Como educador acredito que cumpri com o compromisso que fiz ao me tornar professor, porém com certa tristeza pela situação que a educação passa nos dias atuais e na desvalorização do profissional da educação.
Com toda essa sua experiência na educação, conte-nos uma coisa interessante, pode ser pitoresca, que aconteceu com você. Estava trabalhando num colégio particular aqui de Manaus e fomos convocados para aplicar um curso sobre as apostilas do colégio que seria implementada na Seduc. Era um curso para os colegas professores, ao iniciar a palestra, uma professora me disse assim: “Não aguento mais esses cursos”, eu entendi o que a colega tinha falado, e disse ao grupo que eu não iria ensinar nada, pois tinha colegas com muito mais experiência, e que iriam trocar experiências. A palestra foi um sucesso e muito proveitosa, fui aplaudido de pé e fiquei muito feliz.
Quais são os seus planos na educação? Pretende continuar estudando? Quem sabe fazer o mestrado, o doutorado, o pós-doutorado, publicar um livro…? Já estou próximo da aposentadoria. A ideia é diminuir o ritmo de trabalho e começar a colocar em prática alguns projetos. Quero escrever e idealizar jogos voltadas para a disciplina de História e Geografia.
Quais são as suas influências pedagógicas, isto é, quais foram os autores que mais lhe influenciaram ou que lhe influenciam na formação acadêmica, continuada, profissional, humana, espiritual? Primeiro, o mestre Paulo Freire, minha linha teórica é a Nova História. A história das mentalidades. Leio muito Erick Hobsbawm. Como cristão, leio sempre a Bíblia como fonte de inspiração.
É possível ser professor e não gostar de ler? Você está lendo algum livro no momento? Poderia citar? A leitura é fundamental em todas as áreas do conhecimento. Em um mundo globalizado e com as informações surgindo em grande quantidade devido a evolução tecnológicas, ler é importante para a formação intelectual, pode-se dizer mesmo que é a condição fundamental para compreender o mundo em nossa volta. Atualmente estou lendo o livro: A “Mitologia para quem tem pressa”, de Mark Daniels e terminei de ler “Remada”, do poeta amazonense Werner Borges.
Você tem algum sonho profissional? Um projeto que desejaria muito realizar? Poderia contar? Acredito que fazer um mestrado na minha área, é um grande desejo que espero conseguir mais a frente. E também escrever sobre a conjuntura brasileira à partir do século XXI. Fui gestor da Seduc durante 4 anos e gostaria de voltar novamente a gerenciar uma unidade escolar.
Qual a mensagem que o senhor deixa para os seus colegas professores? Dizer aos amigos professores que a luta é longa e brutal, mas a profissão de educador é fundamental para a construção de uma nação consciente de sua posição social, e também incentivar as mudanças estruturais que permitam uma divisão das riquezas de uma forma mais justa. Nesses mais de trinta anos, sofri pela passividade do Estado, me senti impotente e sem perspectivas. Porém quando ando nas ruas e encontro ex alunos formado e com uma profissão, recarrego o ânimo, e sei que estamos vencendo a guerra contra os inimigos da educação, aqueles que impedem a libertação do povo. Professores e professoras, a jornada é longa e difícil mais o final da estrada é recompensador.
Luís Lemos é professor, filósofo e escritor, autor, entre outras obras, de Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente, Editora Viseu, 2021.
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