Desde meados de agosto, a população do Amazonas, especialmente nos municípios da área de influência da rodovia BR-319, vem sofrendo com a fumaça das queimadas. Nesta sexta-feira, 27.10, o Observatório BR-319, rede de organizações da sociedade civil que atuam na área de influência da rodovia, divulgou nota de posicionamento sobre a atual temporada de fogo e desmatamento ilegal que castiga o Amazonas com fumaça. A situação, que acontece há anos, piorou significativamente em 2023 e impacta a saúde e qualidade de vida das pessoas e o meio ambiente. Manaus, Autazes, Careiro da Várzea, Careiro Castanho, Iranduba e Manacapuru são alguns dos municípios que vêm sofrendo as consequências da fumaça.

Nada disso é por acaso. Desde o início do verão amazônico, em 1º de junho até 26 de outubro, o Amazonas registrou 18.055 focos de calor. O estado é o segundo colocado no ranking nacional de queimadas, atrás apenas do vizinho Pará. As cidades de Lábrea e Manicoré, ao sul da BR-319, estão entre os dez municípios que mais queimaram no ano em todo o Brasil. A chamada “temporada do fogo”, que coincide com a vazante dos rios da Amazônia, foram amplificadas pelo fenômeno El Niño e as mudanças climáticas, resultando em uma estiagem extrema com altas temperaturas e recordes de queimadas para o ano, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O Observatório BR-319 (OBR-319) monitora e alerta sobre a situação há anos. A rede apontou recordes de desmatamento e focos de calor nas regiões monitoradas em 2022, que foi o ano de maior desmatamento na Amazônia Legal (pela 5ª vez consecutiva) e também no Amazonas, e nos 13 municípios da área de influência da BR-319, considerando a série histórica de 2010 a 2022.

Outro estudo produzido pelo OBR-319 mostrou que a rede de ramais nos municípios de Canutama, Humaitá, Manicoré e Tapauá é 5,8 vezes maior que a extensão total da BR-319. Os dados reforçam que, no cenário atual, com baixa governança socioambiental, a rodovia viabiliza o surgimento e expansão de ramais e configura-se como vetor de desmatamento nesses municípios. A expansão dos ramais está associada à grilagem de terras, degradação florestal e outros crimes ambientais, como as queimadas, que colocam em risco a floresta e os povos que nela vivem. As Florestas Públicas Não Destinadas (FPND) são particularmente vulneráveis e concentram a maioria das estradas não oficiais.

A situação é reflexo do descaso do poder público, do desmonte de políticas públicas e do sistema de comando e controle no contexto da rodovia. “Autoridades políticas passaram os últimos anos endossando discursos que incentivaram todo o tipo de atividade ilegal e ignoraram os diversos alertas da comunidade científica. A realidade é que a BR-319 é hoje o principal vetor de desmatamento na região, colocando em risco os povos e comunidades locais, a biodiversidade, recursos naturais e o potencial de sociobioeconomia da região. Precisamos discutir a BR-319 com seriedade e honestidade, sem amadorismo, sem oportunismo”, afirma a secretária executiva do OBR-319, Fernanda Meirelles.

Na nota de posicionamento, o OBR-319 sugere medidas urgentes e cobra o fortalecimento da cooperação entre organizações da sociedade civil, povos indígenas e comunidades tradicionais para combater efetivamente atividades ilegais e assegurar governança na rodovia; assegurar condições de ordem técnica e segurança para a atuação dos órgãos de fiscalização ambiental; e a regularização fundiária, nas esferas federal e estadual, a fim de enquadrar essas áreas em alguma categoria prevista na Lei Nº 11.284/2006, que trata da gestão de florestas públicas, e assim reduzir a vulnerabilidade desses locais e coibir a grilagem de terras. Leia aqui a nota na íntegra.

Artigo anteriorDesembargadora plantonista do TJ manda anular decisão monocrática que afastou Ari Moutinho
Próximo artigoAlberto Neto pede fiscalização da Antaq sobre aumentos abusivos nas passagens de barco no Amazonas