Foto: Brenno Carvalho

O governo da Venezuela propôs, neste sábado, uma reunião “de alto nível” com autoridades da Guiana para tratar sobre às tensões envolvendo a disputa territorial no Essequibo. Uma data para o encontro seria anunciada nos próximos dias, segundo um comunicado emitido por autoridades diplomáticas venezuelanas. Não há confirmação por parte da Guiana.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, abordou a proposta mais cedo, em conversas por telefone que manteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas neste sábado.

“[Nas reuniões, Maduro] fez uma proposta de realizar uma reunião de alto nível com a República Cooperativa da Guiana, que será anunciada nos próximos dias”, disse o texto publicado pelas autoridades diplomáticas, sem detalhar se havia recebido algum tipo de concordância de Georgetown.

VENEZUELA X GUIANA:

  • Venezuela e Guiana estão em crise por uma secular disputa pela região fronteiriça de Essequibo, que corresponde a dois terços do território da Guiana, ter sido reavivada após a descoberta de petróleo na área em 2015;
  • A exploração de petróleo em Essequibo alavancou a economia da Guiana, que nos últimos anos se tornou o país que mais cresce no mundo e dono das maiores reservas de petróleo per capita do planeta;
  • Em 3 de dezembro, o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro votou um referendo sobre a anexação do território, que foi aprovado pela maioria da população;
  • Com o aval popular, Maduro nomeou um general como “autoridade única” da região, apresentou um novo mapa da Venezuela incluindo a província de “Guiana Essequiba” e ordenou à estatal petrolífera PDVSA a concessão de licenças para a exploração de recursos na área;
  • A Guiana, por outro lado, apelou ao Conselho de Segurança e à Corte Internacional de Justiça, organismos da ONU, para intervirem.

O Palácio do Planalto informou a conversa entre Lula e Maduro e disse que o presidente brasileiro defendeu o diálogo entre os dois países sul-americanos . Segundo o governo, Lula “transmitiu a crescente preocupação dos países da América do Sul sobre a questão do Essequibo”. Ele também teria pedido que fossem evitadas medidas unilaterais que levassem a uma escalada da situação.

Antes do anuncio da chancelaria venezuelana, Maduro já havia feito comentários que indicavam certa abertura para diálogo, embora não tenha retirado de seu discurso algum grau de conflito. Em uma série de publicações no X (antigo Twitter), o presidente disse que Guiana e Exxon Mobil — principal petroleira americana a explorar os recursos off-shore na região contestada — teria “que se sentar” e dialogar com Caracas. Ele disse querer “paz e compreensão”.

Em outra publicação horas depois, Maduro culpou a Guiana pela escalada de tensões na região, afirmando que o país sul-americano ignorou o Acordo de Genebra — o que é impreciso, uma vez que seus termos previam a intervenção da ONU, que em 2018 estabeleceu a Corte Internacional de Justiça como órgão competente para julgar o caso, o que a Venezuela não reconhece. Maduro também citou a como ameaça as falas do governo guianense sobre instalar uma base militar norte-americana no país.

“Optamos pelo diálogo direto com a Guiana, mas as suas autoridades revogaram o Acordo de Genebra e começaram a repartir o nosso mar, ameaçando construir uma base militar para o Comando Sul dos EUA. Não contaram com a nossa astúcia, o Povo saiu em defesa da Guiana Essequiba. Não poderão ignorar a vontade soberana da Venezuela!”, escreveu.

Embora seja uma disputa antiga, que remonta o período em que a Guiana ainda era uma colônia britânica na América do Sul, a escalada promovida por Caracas com relação à região nos últimos dias, sobretudo com a realização de um referendo para decidir, internamente, se o país deveria exercer sua soberania sobre a região, causaram instabilidade ao norte do continente. O Brasil chegou a reforçar a presença militar na tríplice fronteira, posicionando homens e blindados em Roraima.

Analistas apontam que o levante sobre a região foi motivado sobretudo por determinantes internas da política venezuelana, com a questão do Essequibo sendo utilizada por Maduro para inflamar sentimentos nacionalistas e tentar mobilizar a população um ano antes da eleição presidencial. Após a votação, o governo também usou o tema para perseguir opositores, com mandados de prisão emitidos contra integrantes da equipe de María Corina Machado, principal opositora do presidente.

No entanto, os especialistas também classificam como uma importante determinante externa o interesse de Caracas pelas grandes reservas de petróleo descobertas na Guiana, sobretudo em um bloco offshore, que está em boa parte localizado no mar territorial do território contestado. A descoberta do petróleo levou a Guiana ao maior boom econômico per capita do mundo.

Com informações de: O Globo 

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