Com o objetivo de ampliar a discussão e entendimento sobre as queimadas e estiagens históricas que o Amazonas tem vivido desde 2023, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) realizou, nesta quinta-feira (26), um seminário com colaboradores e conselheiros da instituição para falar sobre o tema “Queimadas e Secas na Amazônia: situação atual e perspectivas”. A iniciativa foi realizada na sede da fundação, em Manaus, e está disponível no Youtube da instituição.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Amazonas registrou, até o dia 23 de setembro, 21.600 focos de queimadas em 2024 e tem o pior índice em 26 anos. Já na situação hidrológica, o Rio Negro, principal rio na região metropolitana de Manaus, chegou a 13,73 metros nesta sexta-feira, 27 de setembro, ficando apenas 1,03 metros de diferença do recorde de 2023, 12,70 metros, em 120 anos.

A discussão reuniu mais de 100 pessoas, de forma presencial e online, e abordou temáticas desde a situação atual das queimadas no bioma Amazônia até o quanto isso afeta a saúde pública, hoje e futuramente. Estiveram presentes o presidente do Conselho Administrativo da FAS, Luiz Fernando Furlan, a vice-presidente, Izolena Garrido, além dos conselheiros: Joice Ferreira, José Carlos Carvalho, Yacoff Sarkovas, Ilana Benchimol Minev, Wilson Ferreira Jr., Giselle Vilela Lins Maranhão e André Palhano. Também participaram os superintendentes Valcléia Solidade, Fábio Tanaka e Michelle Costa, além do superintendente geral da FAS, Virgilio Viana, que mediou o debate. 

“Temos agora os eventos climáticos extremos, que não [será] em 2050, já chegou. Isso traz muitos desafios e reflexões. Uma delas é a injustiça climática. As pessoas que menos causam o aquecimento global, que são os povos indígenas e populações tradicionais, são as mais impactadas, porque estão mais vulneráveis. A FAS inteira está refletindo sobre isso, com a ciência e informação, e deve culminar em um projeto de adaptação climática”, explicou Virgilio.

A conselheira da FAS e pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa), Joice Ferreira, foi quem abriu o seminário falando sobre o tema “Queimadas e Secas na Amazônia: situação atual e perspectivas”. Joice explicou, em números, a situação atual de queimadas no bioma Amazônia, que conta com 205 mil focos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de janeiro a até 26 de setembro, além de explicar os diferentes tipos de fogos: controlados e descontrolados.

“Nem todo fogo é igual. Temos o fogo que está relacionado ao desmatamento, então se tem um ano com muito desmatamento, se espera aumentar o fogo, porque ele é o processo final do desmatamento. O segundo tipo é o fogo agrícola, da agropecuária, principalmente relacionado ao manejo de pastagens, seja para limpar esse pasto das invasoras ou acabar com o ataque de pragas. E, finalmente, temos a agricultura de forte queima, a agricultura familiar, que utiliza o fogo como mecanismo de produção dos alimentos. Esses três tipos de fogos são controlados, a príncipio”, explica. 

Ainda de acordo com a pesquisadora, existem os fogos descontrolados que são oriundos do desmatamento, da agropecuária e da agricultura familiar que “escapam” e se tornam incêndios. 

“Ele pode ser um incêndio que vai atingir outras áreas agrícolas, pode ser um incêndio florestal, se atingir áreas de floresta, ou os incêndios florestais repetidos, porque quando uma floresta queima, ela fica mais suscetível a queimar [novamente]. Então é importante saber que existem essas diferenças de fogos, que eles estão relacionados a causas diferentes. Em anos que não se tem uma seca tão severa, não terá esse descontrole, mas o que aconteceu esse ano, é claro, temos um contexto de um evento climático extremo e isso não está livre dos fatores que já existem de mudança do uso da terra. Então a exploração de madeira [por exemplo] ajuda a essa terra ficar inflamável”, explicou.

O pesquisador de Geociências do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Marco Antônio Oliveira, abordou sobre o panorama da situação hídrica dos rios do Amazonas. De acordo com ele, o SGB tem um sistema de acompanhamento dos níveis dos rios, baseado em estações hidrometeorológicas, distribuídas em todo o Brasil e que, na Amazônia, possui mais de 500 estações.

“Esse monitoramento visa entender o comportamento dos rios diante dos eventos mais impactantes para nossa região, principalmente a cheia e a seca. A vazante é muito mais difícil de prever, nós temos uma equação boa para cheia, mas a vazante é um caimento exponencial. Às vezes termina em outubro, outras em setembro. Há uma contribuição das águas subterrâneas, então nesse momento, o que está mantendo os rios perenes na nossa região (Manaus) são as águas armazenadas há milhares de anos. No entanto, se considerarmos um ano hidrológico ruim, nós teremos um impacto nessas águas, elas não estão [no momento atual] conseguindo segurar essa descida bruta dos rios”, afirmou.

Saúde pública

O seminário contou também com a participação do médico que faz parte da Associação Amazonense de Pneumologia e Cirurgia Torácica, Luiz Carlos Lopes. Ele explicou as possíveis consequências que a fumaça, oriunda das queimadas e que assolam a região metropolitana e comunidades ribeirinhas, devem causar na saúde das pessoas em um futuro não tão distante.

“O problema da fumaça [para saúde] não é agora, – é agora também – mas é lá na frente também. Então, quem sofre é quem está mais próximo, nós em Manaus estamos sofrendo? Com certeza. Mas as pessoas do interior, bem mais, porque estão próximas às regiões de queimadas”, comentou. 

Segundo o especialista, o Índice de Qualidade do Ar mede a quantidade de material particulado, que é o que faz mal à saúde. “Quando tenho a queima da biomassa, ele [ar] fica suspenso e ele entra pela via aérea, desce pela traqueia, vai até o saco alveolar e lá é onde ocorre a troca gasosa. E o material particulado gera muita inflamação. Ele não inflama só o pulmão, mas inflama o coração, descompensa a diabetes [etc]”, explicou.

Sobre a FAS

A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 16 anos de atuação, a instituição tem números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 39% no desmatamento em áreas atendidas.

Artigo anteriorUEA abre inscrições para mestrado em Ciências Humanas com vagas em Manaus e Tefé
Próximo artigoFesta de Nossa Senhora Aparecida 2024 celebra Jubileu da Esperança, em Manaus