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Nos conturbados anos 1980 com o processo de abertura política no Brasil que inspiraram os versos de ‘O Poema’, que Regina Melo, autora, adaptou para o roteiro de cinema, que foi contemplado no Edital de audiovisual da Lei Paulo Gustavo, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Amazonas. A estreia será na sexta-feira (25) às 19h30, no Sinttel, na Rua Alexandre Amorim, em frente à Igreja de Aparecida e segue no sábado (26), às 19h – Cine-Teatro Guarany (Vila Ninita, Avenida 7 de Setembro, s/n) e retorna para o Sintel no dia 9 de novembro. Todas as exibições são gratuitas.

Aquela década marcou o rompimento de um tempo de silêncio que o regime militar promoveu no País, com censuras, prisões, repressões, assassinatos e desaparecimento de pessoas, muitas das quais nunca encontradas. A chamada abertura política “lenta, gradual e segura” veio em meio a vários atentados a bancas e redações de jornais.

Esse clima político misturado ao movimento efervescente da Universidade – Regina era novata no curso de Comunicação Social do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) – junto a situações particulares de sua vida, fez nascer ‘O Poema’. “Desde aquele momento, via como um produto de audiovisual”, disse a roteirista e diretora do filme.

Mais tarde, ‘O Poema’ teve uma edição artesanal com ilustrações da artista plástica Auxiliadora Zuazo. Mas Regina Melo sentiu que ainda ali não estava o que queria dizer. “Por algumas vezes, tentei colocar em editais locais, mas ele não passava. Como eu nunca fui de desistir, guardei, sabendo que uma hora ele aconteceria”, revela.

Com 25 minutos de duração, em P&B (preto e branco), com detalhes em cor, ‘O Poema’ foi produzido e gravado no centro histórico de Manaus. A diretora explica que o filme é uma alegoria, com muitos símbolos, com os quais pretende chegar no coração das pessoas. Um filme psicológico, subjetivo, realizado com muito envolvimento das equipes técnica e artística.

Regina Melo pretende, com o filme, reacender na juventude o interesse sobre o tema histórico e político, como forma de proteger a nossa democracia, que tem sido constantemente ameaçada por golpes de Estado e por oportunistas de ocasião.

“O Poema é um pouco dessa época de silêncio”, diz Regina Melo. “É uma alegoria, cheia de signos e metáforas que, numa linguagem subjetiva, conta sobre os sentimentos de quem passa direta ou indiretamente pelas dores da repressão, da tortura, da ditadura.

O regime militar durou mais de duas décadas (1964-1985) com governos autoritários que consolidaram a ditadura, através de inúmeros atos institucionais (17, ao todo). O pior de todos, o AI-5, fechou o Congresso Nacional em 13 de dezembro de 1968 por dez meses, cassou mandatos parlamentares, estabeleceu censura prévia da imprensa, cinema, teatro, televisão e músicas.

Regina Melo se intitula “filha do silêncio”. Nasceu em 1959 e passou toda a sua infância sem entender o que se passava no País. Só na adolescência e, posteriormente, na Universidade, foi sentindo os impactos do golpe militar na sua geração.

Foi tomando conhecimento do Brasil “ame-o ou deixe-o”, do Governo Médici, que percebeu que o “eu te amo, meu Brasil”, nas praias ensolaradas, escondiam os crimes que o regime militar praticava nas casas de tortura, quartéis e prisões.

Regina Melo, intuitiva, cantava “Irene” (“eu quero ir, minha gente, eu não sou daqui”), de Tom Zé; depois, “Cálice”, de Chico Buarque (“pai, afasta de mim esse cale-se”) e foi assimilando o que se passava no país: perseguições, repressões, prisões, torturas e assassinatos. Daí, com “O bêbado e o equilibrista” (“que sonha com a volta do irmão do Henfil”), foi juntando as peças: muitos cidadãos brasileiros tiveram que deixar o país.

“A prisão de Caetano Veloso, Marília Pera e Gilberto Gil.  O exílio de Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Raul Seixas, Geraldo Vandré e dos diretores de teatro Augusto Boal e Zé Celso; o assassinato do diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, depois fotografado enforcado, simulando um suicídio” são flashes inspiradores de O Poema.

Regina Melo fala, ainda, que os atentados terroristas em bancas de jornais em 1979 e 1980 e a bomba no Riocentro, em 1981, foram estopins que culminaram com os versos de O Poema. “Nessa época, os militares anunciavam uma abertura política lenta, gradual e segura, mas relutavam em abrir o regime, daí os vários atentados terroristas, como os que aconteceram em redações e bancas de jornais”.

Currículo

Regina Melo é escritora, poeta, compositora e produtora de audiovisual. Autora dos romances’ Ykamiabas, filhas da lua, mulheres da Terra’; ‘Oceano primeiro, mar de leite, rio da criação’ e ‘A fênix e o dragão, paixão e eterno retorno’. Venceu festivais de música em Manaus e São Paulo, escreveu livros de poesia: ‘Pariência’, ‘Estação do Nada’, ‘O Poema e Mais uma vez, Poesia’. Seu livro ‘Ykamiabas’ foi tema da Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha, em 2010, e é referência em estudos feministas e antropológicos. Foi uma das contempladas no edital Carmen Santos Cinema de Mulheres em 2013, com o filme “Os anseios das cunhãs” e uma das selecionadas no Edital Ruth de Souza, em 2023 para produzir o longa-metragem ‘Ykamiabas’. Amazonense, de Manaus, se divide entre Natal (RN) e Manaus. Com informações de D24am.

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