Os professores devem ser homenageados todos os dias e não apenas no dia 15 de outubro. Por isso, damos continuidade ao projeto Vozes da Educação de Manaus trazendo hoje a trajetória de vida da professora Mayanna Velame na Educação de Manaus. Boa leitura!
“Eu me chamo Mayanna Velame, sou natural de Manaus e nasci no dia dezenove de fevereiro de mil novecentos e oitenta e três, na Santa Casa de Misericórdia. Sou a segunda filha de três irmãos. Minha mãe foi professora da rede estadual de ensino e meu pai instrumentista da Eletronorte. Realizei meus estudos (Fundamental e Médio) numa escola espírita e após um hiato de quase cinco anos sem estudar, ingressei na UFAM. Fui aprovada em 4° lugar para o curso de Letras-Língua e Literatura Portuguesa. Em 2011 fui aprovada no concurso da Secretaria Estadual de Educação do Amazonas e hoje já leciono há pouco mais de uma década, na Escola Estadual…
Meu início na educação foi muito antes do concurso público. Lembro que eu já ajudava minha mãe, que naquele tempo, tinha uma escolinha de reforço. Quando ela, por algum motivo precisava se ausentar, eu assumia seus alunos. Na faculdade, já estudando Letras, recordo-me de uma professora que me indicou para alfabetizar sua secretária do lar. Acho que este foi meu maior desafio, porque a aluna era uma senhora já de idade e com o cansaço do dia, pouco tinha tempo para se dedicar aos estudos. Mas mesmo assim, ela aprendeu a ler, através de receitas, embalagens e rótulos de alimentos. Acho que lecionei para dona Marilda durante 2 anos.
Tudo muda e a educação segue esses passos. Hoje temos a tecnologia como ferramenta de aprendizagem, mas também como vilã. O conhecimento nunca esteve tão acessível aos nossos alunos. Em contrapartida, a escola pública ainda tem suas limitações: creio que ainda não temos políticas públicas plausíveis e uma consonância da escola que de fato queremos. A valorização dos professores é outro quesito. E quando digo valorização, não é apenas no que se refere a ganhos salariais, mas ao respeito de que ali em sala de aula, nós temos um profissional, que estudou muito para estar lá.
Nesses anos que atuo como professa, acho interessante quando alguns alunos dizem que querem ser professor. Ou então, quando se admiram da extrema paciência que tenho com eles. Por isso eu penso que a maior mudança na educação ocorre no comportamental, ou seja, na forma como os professores ministram suas aulas, se de forma positiva ou negativa, se despertam os sonhos dos alunos ou se frustram.
O aluno é um observador. Apesar de serem adolescentes, eles possuem um olhar que fotografa cada professor. Reconhecem quando estamos estressados, felizes, radiantes. Há alunos que nos elogiam, dizem que estamos bonitas naquela manhã. As meninas reparam nosso batom… Tem os alunos mais curiosos, que indagam, comentam o conteúdo. Na verdade, a sala de aula é um universo e alunos e professores são os astros.
Professor tem que estudar, não tem como… Tenho uma pós e um mestrado. Publiquei um livro de poemas em homenagem à Língua Portuguesa, intitulado: “Português Amoroso”. No futuro, quem sabe também não escreva um livro de crônicas, com relatos dos momentos mais hilários e reflexivos em sala de aula. Quanto às minhas influências pedagógicas, gosto muito de Irandé Antunes, Paulo Ramos, Ângela Paiva Dionísio, Paulo Freire, entre outros…
Por fim, penso que todo professor traz em sua essência a esperança. Apesar de todos os entraves, temos uma missão singular. São centenas de crianças e jovens que passam todos os anos em nossas vidas. Cidadãos futuros, que irão construir e contribuir com nosso país. Que sejamos, então, a luz para esses garotos e garotas. Jovens que muitas das vezes só querem a atenção de um adulto, para externalizar suas dores e angústias. Ser professor da rede pública é um desafio, mas também te oferece uma oportunidade de conhecer um recorte daquilo que é o Brasil. É na escola pública que as classes sociais nos dão um retrato da diversidade e dos percalços que assolam nossa nação. A todos os professores, eu digo: não desistam, somos especiais”.
Luís Lemos é professor, filósofo e escritor, autor, entre outras obras de: “Filhos da quarentena” e “Amores que transformam”.
Instagram: @luislemosescritor