O Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS) e Ministério da Saúde (MS), inicia na próxima segunda-feira, 18/11, em Manaus (AM), um curso de imersão sobre taxonomia do maruim (Culicoides) – principal transmissor da febre oropouche. O curso é destinado a entomólogos de nove países das Américas do Sul e Central e do Caribe, dentro do Programa Regional de Entomologia em Saúde Pública da OPAS/OMS. A capacitação vai enfocar aspectos da biologia, ecologia e vigilância dos insetos do gênero Culicoides, vetores do vírus Oropouche (Orov), capacitando, no total, 18 entomólogos de países como Bolívia, Cuba, Guatemala, Honduras, República Domenicana, Costa Rica, Paraguai e Brasil, com o suporte logístico e financeiro da OPAS. O curso se estenderá até o dia 22/11, ministrado pelo Laboratório de Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia (EDTA), do ILMD/Fiocruz Amazônia.

“Será um curso de imersão de uma semana, com teoria e atividades práticas de campo e estamos ansiosos para essa troca de experiências com os demais países”, afirma o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Felipe Arley Costa Pessoa, que ministrará a oficina, juntamente com a pesquisadora-titular do EDTA Cláudia Maria Río Velasquez e a pesquisadora Emanuele Sousa Farias, pertencente à Rede de Compartilhamento de Dados e Informações sobre Diversidade de Arvores na Amazônia. “Na imersão, iremos abordar métodos de vigilância, captura e controle dos Culicoides (maruins), capacitando os participantes, por exemplo, sobre como fazer um estudo entomológico, como coletar de forma correta, quais as armadilhas mais adequadas, como preservar e também sobre a biologia básica, ecoepidemiologia e identificação propriamente dita dos maruins”, explica Felipe Pessoa.

De acordo com a OPAS, o curso tem como propósito atualizar os participantes nas tecnologias existentes e nas formas de realizar e manter a vigilância do vetor, fortalecendo os sistemas de vigilância entomológica, de alerta prévio e respostas para mitigar a transmissão do Oropouche nos países. O vírus foi isolado pela primeira vez em 1955, na Ilha de Trindade e Tobago, no Caribe. No Brasil, foi identificado pela primeira vez em 1960. Ele pode causar febre com sintomas semelhantes aos de outras arboviroses, como Dengue, Chikungunya e Zika. Segundo o pesquisador, a transmissão ocorre em ciclos silvestres e urbanos, com diferentes hospedeiros animais e humanos. A recente expansão de casos para estados do Sudeste e Nordeste do Brasil, incluindo o primeiro registro no Rio Grande do Norte em 2024, destaca a necessidade de mais estudos sobre a biologia dos vetores e a relação patógeno-vetor com vistas à prevenção e controle da doença.

Felipe Pessoa salienta a importância da identificação correta das espécies, no sentido de ajudar os técnicos dos serviços de controle a apontar onde estão os vetores, qual período, quais as espécies são atraídas pelo ambiente modificado pelo homem. “Existem provavelmente duas famílias de dipteros hematófagos que podem transmitir o vírus Oropouche: Culicidae, que são os mosquitos. No Amazonas, encontramos muitos mosquitos silvestres infectados com o vírus oropouche. E a família Ceratopogonidae, onde estão alocados os Culicoides, os maruins. A ecologia, a biologia dessas famílias são distintas. Existem muitas espécies e que possuem características próprias de nicho ecológico”, afirma.

Em setembro, a OPAS emitiu uma nova atualização sobre a febre do Oropouche nas Américas, pedindo aos países que reforcem a vigilância, notifiquem quaisquer eventos incomuns e fortaleçam as medidas de prevenção e controle de vetores. Em 2024, o vírus foi detectado em áreas onde a transmissão não havia sido registrada anteriormente. Além disso, foram notificadas mortes associadas à infecção, bem como casos de transmissão vertical. Desde o último alerta epidemiológico da OPAS, emitido em 1 de agosto de 2024 e até 6 de setembro, foram notificados mais 1.774 casos de Oropouche em seis países, elevando o total para 9.852 casos confirmados. O Brasil continua sendo o país mais afetado, com 7.931 casos e duas mortes.

Os outros países atualmente são Bolívia (356 casos), Colômbia (74 casos), Cuba (506 casos), Peru (930 casos) e, mais recentemente, a República Dominicana (33 casos). Além disso, foram notificados casos importados nos Estados Unidos (21 casos) e no Canadá (1 caso), após viagens a países endêmicos. Também foram documentos 30 casos importados na Europa.

CAPACITAÇÕES

O Laboratório EDTA já realizou outros dois cursos de capacitação em taxonomia de culicoides: um voltado para 20 entomólogos do Amazonas, na Fundação de Vigilância em Saúde Dra Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), e outro em Natal (RN), com agentes de saúde do Estado e estudantes de pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “Estamos em um momento que o interesse em taxonomia de insetos vetores foi diminuído e o reflexo foi de um surto na Região Neotropical e Caribe, com técnicos que não tinham sido familiarizados com essa família. As medidas então de controle ficam confusas. Esse retorno a capacitação para entomólogos em taxonomia auxiliará, principalmente na vigilância e compreensão da biodiversidade desses vetores, que não transmitem só o vírus Oropouche. Várias espécies também são transmissores de filárias, protozoários, outros vírus também de importância veterinária”, enfatiza. 

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