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O Ministério Público de Goiás (MPGO) denunciou nesta semana quatro policiais militares acusados ​​de invadir uma residência em Goiânia (GO), matar três jovens presentes no local e sequestrar um quarto adolescente de 14 anos, que posteriormente foi executado e teve o corpo ocultado. O crime aconteceu em abril de 2018, mas só teve resposta agora, mais de seis anos depois.

A investigação policial do caso foi retomada em setembro de 2021, após reportagem do Metrópoles que revelou detalhes do inquérito sigiloso que estava parado. Três dias depois da publicação do texto, a Polícia Civil enviou o que existia de investigação para o Ministério Público, que então cobrou uma “averiguação de forma completa e não fatiada da operação”.

Foram denunciados por homicídio qualificado os policiais major Fabrício Francisco da Costa, 2º sargento Cledson Valadares Silva Barbosa, 1º sargento Eder de Sousa Bernardes e 3º sargento Thiago Antonio de Almeida. Todos foram promovidos mais de uma vez após a chacina.

Das 18 testemunhas no inquérito, quatro são sigilosas. A denúncia do MP é assinada por quatro promotores, como medida de segurança e para evitar perseguições, assim como acontece em investigações sobre facções criminosas. Os promotores também pedem as prisões preventivas e os afastamentos temporários dos policiais acusados.

O caso será analisado pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) que pode acatar a denúncia, tornando os policiais réus por homicídio. Os crimes de fraude processual (forjar confronto) e ocultação de cadáver seguem para análise da Auditoria Militar. A reportagem tenta contato com a defesa dos policiais militares. O espaço segue aberto.

“Pelo amor de Deus”

O estudante João Vitor, de 14 anos, desapareceu após ir à casa de um amigo para jogar videogame. Conforme a denúncia, uma equipe do Batalhão de Choque da Polícia Militar invadiu a residência e matou três amigos de João que estavam no local. No entanto, o corpo de João não estava entre as vítimas e nunca foi encontrado.

As investigações apontaram que os policiais entraram na residência porque havia um carro furtado na garagem. O carro teria sido deixado ali para “esfriar” por um amigo ainda não identificado de Matheus Henrique, de 19, dono da residência que também foi morto. Ele morava no local com a avó, que havia saído de casa antes da polícia invadir.

Os policiais disseram que entraram na casa e revidaram, pois foram recebidos a tiros. No entanto, as investigações indicam que não foi isso que aconteceu. A vítima Divino Gustavo, de 19 anos, chegou a se trancar no quarto, tentando se esconder, mas a porta foi arrombada e ele foi executado com três tiros. Marley, de 17, tentou pular o muro, mas foi executado com quatro tiros, segundo o inquérito.

Um vizinho chegou a ouvir os pedidos de socorro de um dos mortos: “Pelo amor de Deus, não faz isso comigo não!”, gritou o rapaz antes do som dos disparos.

Sequestrado e morto

Acontece que, segundo as investigações, o adolescente João Vitor presenciou as execuções dos três amigos, mas acabou não sendo morto naquele momento.

De acordo com as investigações, João Vitor foi colocado vivo na viatura e foi sequestrado pelos militares. O adolescente foi levado então para um matagal alguns quarteirões de distância e foi executado a tiros. Em seguida, seu corpo foi ocultado.

Uma testemunha viu o possível momento da execução de João Vitor no matagal. Segundo o depoimento, dois veículos chegaram no local com quatro homens encapuzados e uma quinta pessoa de “corpo bem franzino”. Segundo a testemunha, um dos encapuzados gritou: “Corre, corre!”. A pessoa de corpo franzino teria saído correndo pela mata até ser atingida por tiros.

No local da execução foi encontrado um par de chinelos de João Vitor, a carcaça de um aparelho de celular que ele usava e três projéteis de arma de fogo. “Os denunciados colocaram o corpo em um dos veículos e o ocultaram, situação que persiste até a presente data”, diz trecho da denúncia do MP.

Para os investigadores, João Vitor foi assassinado para assegurar a impunidade dos PMs em relação aos três primeiros homicídios, eliminando o adolescente que havia presenciado os fatos.

O caso da morte dos quatro amigos pela polícia ficou conhecido como a “Chacina Solar Bougainville”, em referência ao bairro em que o crime aconteceu. Familiares das vítimas se organizaram e criaram o movimento Mães Pela Paz. A avó de Matheus, Maria Ramos, até escreveu um livro sobre o caso, intitulado: Por que não me sinto segura dentro da minha própria casa?

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