O avião turboélice bimotor de pequeno porte que caiu por volta das 9h deste domingo, 22, em Gramado, na Serra Gaúcha, não deveria ter decolado dadas as condições climáticas da região, de intensa neblina e ventos fortes. A análise é do especialista em risco e segurança, engenheiro Gerardo Portela, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que está em Gramado para as festas de fim de ano. Dez pessoas morreram no acidente, conforme informou a Polícia Civil do Estado.
Entre as vítimas estão o empresário Luiz Cláudio Galeazzi, sua esposa, três filhas, a sogra, um outro casal e duas crianças. O avião decolou de Canela, cidade vizinha a Gramado, com destino a Jundiaí, no interior de São Paulo, mas caiu pouco depois da decolagem.
“Nesta manhã, as condições de voo aqui em Gramado não estavam nada boas; havia uma forte neblina e também ventos intensos que dificultam qualquer tipo de voo, principalmente com aeronaves pequenas e dentro da área urbana”, explicou Portela em entrevista por telefone, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. “Foi um erro levantar voo nessas condições”, ressaltou.
Portela, que chegou a Gramado no sábado, relatou ter enfrentado problemas no pouso devido à baixa visibilidade provocada pela neblina intensa que cobre a região desde ontem. “O meu voo teve que arremeter, não conseguiu fazer o pouso, e era uma aeronave A-320, bem maior que o bimotor. Imagine uma aeronave pequena, em condições climáticas adversas e sem condição de voo visual”, contou.
O especialista ressaltou que, para um acidente assim acontecer, nunca há apenas um motivo. O aeroporto de Canela, ele lembra, não possui torre de controle nem condições de orientar um voo por instrumentos. “Ou seja, os aviões que decolam de lá precisam ter condições visuais de voo. Pelas regras aeronáuticas, é preciso ter uma visibilidade de até 5 mil metros. Segundo Portela, a visibilidade neste domingo em Gramado não passava dos 200 metros.”
Além disso, Portela destacou que é incomum sobrevoar áreas urbanas densamente povoadas. “Nunca é desejável fazer um sobrevoo desnecessário sobre áreas urbanas, áreas habitadas. A recomendação é sempre evitar”, explicou. “Ou seja, se há um planejamento correto do voo, o certo é desviar dessas áreas.”
Portela, que já participou de investigações de outros acidentes aéreos, disse ainda que é comum culpar o piloto que morreu e isentar os vivos de culpa, mas há outros fatores a serem analisados. “O aeroporto é limitadíssimo, não tem torre de controle, não tem nada”, lembrou, citando outros acidentes cujos voos partiram de aeroportos pequenos. “Outra coisa é sabermos se houve alguma falha mecânica da aeronave, só a investigação poderá dizer.”
Ainda assim, ele lembra: “O piloto não quer cair. Certamente um sujeito viajando com toda a família não quer cair. Mas alguma coisa fez com que ele decidisse levantar voo com condições obviamente ruins. As pessoas podem ser induzidas ao erro por informações incompletas ou incorretas sobre as condições climáticas, por pressões externas para decolagem, para citar dois exemplos.”
O acidente ocorreu logo após a decolagem, quando o avião caiu em uma zona residencial de Gramado, matando as dez pessoas a bordo e ferindo dezenas de outras no solo. O caso está sendo investigado pelas autoridades competentes para determinar as causas exatas do acidente e as responsabilidades envolvidas.