A cidade de Aguiarnópolis, no Tocantins, enfrenta uma tragédia após o desabamento da ponte Juscelino Kubitschek, ocorrido no domingo (22/12), que deixou dois mortos e 16 desaparecidos. Em meio às buscas e investigações sobre o colapso da estrutura, chama atenção o fato de que o município destinou ao menos R$ 1,8 milhão para contratações artísticas em festivais realizados este ano. A informação foi divulgada pelo portal Metrópoles.
Com cerca de 5 mil habitantes, Aguiarnópolis investiu aproximadamente 5% do seu orçamento anual em eventos que contaram com artistas de renome nacional. A maior parte do montante – cerca de R$ 1 milhão – foi financiada por meio de emendas Pix, uma modalidade de transferência de recursos públicos conhecida pela rapidez na liberação e pouca transparência no uso, já que a contratação dos serviços não precisa seguir regras mais rigorosas de fiscalização.
Contratações milionárias e festas grandiosas
Entre 24 e 26 de maio, a cidade comemorou seu 30º aniversário com um festival que reuniu nove artistas. O evento incluiu apresentações de cantores gospel como Davi Sacer, Valesca Mayssa e Marquinhos Gomes, cujos cachês somaram R$ 385 mil. No dia seguinte, a banda Moleca 100 Vergonha e o grupo Cavaleiros do Forró receberam, juntos, R$ 350 mil. Outros destaques foram Ricardo & Thiago (R$ 90 mil), o DJ Igor Cunha (R$ 80 mil) e Nadson O Ferreirinha, que recebeu impressionantes R$ 280 mil como atração principal.
O evento foi realizado com o apoio de emendas parlamentares. Apesar de não estar especificado no portal da transparência da prefeitura quem foram os autores dos repasses, banners de divulgação dos shows mencionam o apoio do deputado federal Filipe Martins (PL-TO) e dos deputados estaduais Jair Farias (sem partido) e Fabion Gomes (PL).
Tragédia expõe prioridades questionáveis
Embora a ponte Juscelino Kubitschek seja de responsabilidade do governo federal, o desabamento em Aguiarnópolis coloca em evidência possíveis falhas na gestão e na priorização de recursos públicos. Moradores já alertavam sobre as condições precárias da estrutura, que ligava o município a Estreito, no Maranhão. O vereador Elias Junior, que registrava imagens do estado da ponte no momento do desabamento, reforçou a percepção de negligência na manutenção de infraestruturas essenciais.
Especialistas apontam que o gasto elevado com eventos e shows em relação ao tamanho da cidade pode indicar uma distorção nas prioridades da administração local. Enquanto recursos vultuosos foram destinados a festivais, a população enfrenta problemas estruturais graves, como a necessidade de investimentos em obras e manutenções básicas.
A tragédia em Aguiarnópolis reabre o debate sobre como recursos públicos devem ser alocados para atender às reais necessidades da população, evitando que questões críticas sejam negligenciadas em nome de eventos pontuais.